Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Vital e seu violão

Vital é um típico brasileiro. Nasceu em Exu, cidade pernambucana localizada no sertão semi-árido nordestino, em uma família honrada.

 Perdeu a mãe ainda em tenra idade, com oito irmãos menores. Trabalhou na roça desde que entaludou, ajudando o pai - agricultura de subsistência (milho, feijão e arroz), complementada por uma pequena criação (aves e caprinos). Não pode, assim, persistir nos estudos.

Quando completou dezoito anos, seguiu a sina dos irmãos mais velhos e foi tentar a sorte no Sul Maravilha (sic), no trabalho pesado e mal-renumerado da construção civil e outros empregos similares, como “peão” – portas de entrada e saída de quase todos os migrantes nordestinos.

Mas Vital ousou no sonho, com uma paralela vida de músico profissional. Aprendeu a tocar violão e trabalhou na noite, tocando em shows, em churrascarias e onde houvesse espaço para mostrar seu talento. Passou vinte e oito anos em São Paulo. Um dia retornou a suas raízes, para voltar a trabalhar na roça, plantando milho, feijão, arroz, andu, fava e alguns legumes. Assim sobrevive e sustenta sua pequena prole, formada pela mulher e três filhos ainda menores de idade.

Mas Vital pouco se lamenta, a não ser do fato de não ter encontrado espaço para trabalhar com música. Mas não desgruda do seu violão.

Um final de semana atrás, Vital, que é meu primo legítimo, veio ao Crato, visitar sua tia Creuza, que é minha mãe e irmã de seu pai, meu tio Milton. Não tinha dinheiro nem pra pagar as passagens. Mas não se fez de rogado e as conseguiu na prefeitura. Trouxe, é claro, o seu violão.

Fazia muito tempo que não o via. A última vez, talvez, foi numa de suas idas e vindas de São Paulo, quando esporadicamente vinha visitar o pai e os irmãos que aqui ficaram.

Convidei-o para um almoço. Antes, porém, Vital desfilou um vasto repertório, notadamente de músicas de Amado Batista, Bartô Galeno e Flávio José, entremeadas de um e outro sucesso de Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Reginaldo Rossi.

 No fim da tarde, fui deixá-lo no ponto do ônibus. Ele disse que teria que ir até a cidade, pois tinha deixado sua bicicleta guardada em uma casa. De lá pedalaria cerca de uma hora até chegar ao Altinho, sítio onde mora, em terra que pertence ao seu pai.

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