Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Tudo muda - Emerson Monteiro


As tais voltas que dá a vida dizem isso. O eterno movimento, que carece sabedoria para acompanhar. Ninguém vanglorie dias e coisas, turbilhão de passageiros em volta do velho trem, cinema cativo em permanentes atitudes positivas. Característica por demais das existências, a mudança reclama respeito no fim de aceitar os tamanhos que se possui. Contudo, adotar compreender o tanto que cabe, de um por um, sem invadir o território alheio e querer tomar à força o que lhe pertence.

O giro da Terra no espaço em torno de seu próprio eixo demonstra o ensino desta efetiva mudança. Olhar o céu e notar nuvens, deslocamentos do ar, os astros a correr, as posições do Sol. Saber seguir no ritmo que a natureza impõe. O humor variável das pessoas. O calor das temperaturas. Lições permanentes de flutuação, que chamam à responsabilidade os protagonistas do drama da continuidade.

Quais habitantes de enorme formigueiro, exército fervilhante de criaturas cria asas e voa, perante os cenários desta representação coletiva, às vezes, com boa vontade, conhecendo os mistérios que envolvem de perguntas assustadoras. Outras, arrancando raízes da tranquilidade e chamando a si o direito de reger a orquestra do silêncio ainda que ignorando o sabor das notas musicais.

Entretanto adotar, com humildade, o funcionamento independente das peças no tabuleiro, que reclamam qualquer norma, dos princípios e das origens. Caso contrário, o formigueiro entraria em compassos de espera ou destruição, num resultado melancólico.

Conhecer o espaço que nos cabe de herança no bolo em elaboração, e ajustar os valores que precisamos adquirir na viagem dos giros que a vida oferecer.

Por maior seja nome, posição, fama, a dimensão do freguês só comporta os conceitos de Igualdade, Liberdade, Fraternidade. Todos iguais perante a Lei comum. Seres dotados de Liberdade para criar as proporções pessoais e sociais. Irmãos entre irmãos sob teto azul do Infinito.

Deveras, como tudo muda neste chão, e ninguém se vanglorie quando há um Eu que fala disso todo tempo nas ações da Natureza perene; dentro do coração das pessoas; na luz de toda consciência. Há um núcleo de perfeição em tudo isto. Um foco dominante de claridade que indica certeza e persistência. O otimismo qual razão de trabalhar os momentos com extrema habilidade, semelhante aos artistas que produzem suas telas nascidas da inspiração pura. A arte de viver, que exige, por isso, dedicação, paz e aceitação das transformações que a vida impõe, para contar histórias felizes aos nossos filhos e aos filhos deles, os novos atores vindos alegres ao mesmo palco.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

PROGRAMA CARIRI ENCANTADO SONORIDADES (29/06/2011)

Musicalidade caririense: uma “ruma” de sons diferentes

O Cariri tem em sua fortaleza fonte de indiscutíveis riquezas.

Terra de grandes mestres da cultura popular, a região apresenta uma musicalidade bastante marcada por elementos da tradição oral que influenciam, cada vez mais, novas gerações de músicos. Estas buscam no universo da tradição nordestina a matéria-prima para seus trabalhos artísticos.

Mas, igualmente, a região sempre foi aberta para as mais diversas informações que aqui chegam por vários meios, desde tempos mais remotos.

O resultado é um repertório regional de músicas universais, que, por isso, traz uma assinatura própria, marcada pela experimentação, ousadia e originalidade.

O programa Cariri Encantado Sonoridades de hoje traz uma das muitas possibilidades de seleção da musicalidade caririense, representada por compositores e intérpretes locais, como Bosco Lisboa, Abidoral e Pachelly Jamacaru, Luiz Carlos Salatiel, José Nilton Figueiredo, Lenynha Vaz, Zabumbeiros Cariris, Dr. Raiz, Cleivan Paiva, Célia Dias, João Carlos, Herdeiros do Rei e Geraldo Júnior.

Onde ouvir
Rádio Educadora do Cariri AM 1020 e www.radioeducadoradocariri.com.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vencer a si próprio - Emerson Monteiro


Eita luta feroz essa que se trava dentro de nós, da gente com a gente mesmo. Pugna de maiores proporções jamais haverá. Um conflito de dois cachorros grandes, semelhante à comparação das lendas indígenas dos povos norte-americanos. A luta do Mal contra o Bem. Vencerá aquele animal que for mais bem alimentado, e quem os alimenta somos nós.

Assim acontece, pois, em face de passar por dentro das individualidades a lei que tudo atravessa neste mundo, a dualidade nas existências da matéria. No fim de resultar em equilíbrio, os dois pratos da balança mostram seu peso e flutuam, durante o tempo das relações humanas espalhadas nos palcos deste chão.

Certa hora vem pelos pés; outra, pela cabeça, no correr dos dias infinitos. Algo similar aos dias e às noites, noites e dias, andar das histórias que sucedem.
Essa peleja constante de administrar as individualidades significa amaciar os caminhos do dia seguinte. Vêm as provocações, a mensagem invade o ego e o comando responderá. Caso exista controle, algum conhecimento das consequências, o resultado produzido demonstrará o grau das pessoas. Os sentenciados de reações violentas ou as vítimas de depressão, comuns nestes ares nebulosos, sabem disso. Elas conhecem de perto o quanto as fronteiras da consciência precisavam de vigilância. Diante das limitações, impulsos descontrolados ocasionaram estragos de não ter tamanho.

Isso porque a quadra estreita do presente de velocidade acelerada na sobrevivência, rotinas estressantes, fere constante a paz social, regida pelo signo do desgaste na válvula da paciência.

O autodomínio, com tamanhos desafios, ganha mais que antes dimensões transamazônicas. Apagar o fogo dos instintos animais que ainda transportamos exigir o ensino de Jesus a todo segundo de Orai e vigia para não cair em tentação.

Os direitos individuais falam a linguagem desses tempos. Respeitar o direito dos demais para merecer o respeito que lhe cabe. As avenidas já estreitas viraram campo de prova. Sinais estabelecem pausas, na corrida do ouro. Lugares desapareceram debaixo dos pés dessa gente conduzida nas mãos dos especialistas da contenção e do inesperado. Pressa. Aflição. Fumaça. Poluição e desassossego. Tantas viagens distantes, na psicologia das almas, em um único lugar das cidades que diminuíram de tamanho no ritmo dos passos perdidos.

Vencer a si próprio requer, qual jamais, coragem extrema. Enquanto, nas mesas de negociação final, achar-se-ão reunidos aqueles a quem fizemos sofrer pela incompreensão e ausência do perdão, eles, os semelhantes que vieram junto a nós ensinar o quanto necessitávamos, na aquisição da humildade verdadeira.

Eis só algumas observações sobre a realidade presente nas condições desta jornada.

sábado, 25 de junho de 2011

Na busca da palavra certa - Emerson Monteiro


Por melhor que seja o sonho, quando a gente acorda se sujeita correr logo a pegar a bagagem de ontem que largara em um canto no início do sono. Por mais limpo que esteja o sentimento adquirido com o repouso, a leveza no pensamento, se recorre aos velhos trastes deixados de ontem. Não sei explicar bem o motivo disso. Talvez acomodação. Insegurança de si. Ausência das alternativas práticas. Ou apego aos territórios do conhecido. Razões diversas, que todo mundo tem as suas.

Mas pode ser diferente. Se rever os conceitos e aprender outras razões que sirvam de base para construir de estradas reveladoras do que se sonhou com sofreguidão. Pode ser diferente, com certeza. E diante dessa oportunidade, conceitos internos carece de mostrar a nós próprios este direito de refazer a vida através das nossas buscas e nossos encontros.

O estudo das palavras significa esta visão de renovar o mundo em nós, pois a cara do mundo nada mais representa do que cara que a gente oferece todo dia. Dominar as camadas internas da criatura que nós somos, é nossa principal meta diária. O papel que a gente desenvolve tem tudo a ver com a forma de acreditar neste processo continuado.

Os artistas sempre falar disso. Os músicos, do som universal. Os pintores, da tela ideal. Os filósofos, dos mundos perfeitos. Os místicos, do reino da realização do ser, o Paraíso. Pais, de uma família unida e forte. O discurso de Luther King, dizendo que teve um sonho em que lobos pastavam ao lado de ovelha.

Para mudar os tempos já existe um ator, a raça, a dos seres humanos.

Nisso, todo momento vem qual ocasião pronta na edificação da paz, objetivo da multidão inteira. Por mais que haja o instinto do poder, a fome do ouro e a ânsia do prazer, de plena consciência o que todos desejam é viver longe das aflições da intranquilidade e da insegurança.

Saber o que facilita em tudo a tal busca guarda estreita ligação consigo mesmo e com o próximo. Saber pisar esse chão com o espírito desarmado, porque deixou de existir pretextos de defesa constante das armadilhas, porquanto os humanos resolvem tirar do sonho e trazer à realidade o valor da amizade.

Usar a inteligência em nome desta condição de harmonia social tornou-se a via principal das existências. Aquela mania feia de subir na cacunda dos outros para chegar no alto deixará de justificar tanta guerra, miséria humana, tantos abismos cavados diante da história.

Esta palavra mágica, a Paz, deverá sair de dentro dos discursos e ganhar as ruas e os campos, realizar maravilhas. Conhecer e usar este conhecimento produzirá os milagres que a vida oferece no barco do tempo e encherá as medidas da alegria, traduzindo em bênçãos as colinas infinitas da Esperança.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Adivinha


Hortelina já havia disparado todos os tiros da macaca, já não mais havia projéteis na cartucheira. Só projetos. Mesmo assim, solteirona de longo curso, via seu sonho de casamento de vela na mão , na UTI. Até que lhe foram aparecendo pretendentes enquanto o fulgor da juventude ainda rescendia seu perfume de jasmim. Sistemática, Hortelina escolheu demais. Queria um par perfeito, um homem desses que não existem nem nos livros de ficção: bonito, rico, fiel, eterno, inteligente, elegante, educado. As amigas já lhe vinham alertando que ela precisava fazer um upgrade na folha de exigências: hoje até Homem mesmo, sem nenhum outro atributo, estava difícil de achar. Hortelina, no entanto, insistiu nos critérios rigorosos e ali estava varando a quarta década, sem a menor expectativa de ter seu sonho realizado. Mantinha, na capa, um certo ar de dignidade e placidez, uma tentativa inalcançável de mimetizar o desespero que lhe roia a alma.

Talvez tenha sido por isso mesmo que na última noite de São João caprichou no figurino. Caracterizada para a festa, desdobrou-se nas adivinhas. Tomou umas cinco colegas mais distantes, com quem se indispusera anteriormente, como comadres de fogueira. Enquanto os balões corriam pelos céus, sob o ribombar das bombas e dos rojões, enfiou uma faca virgem na bananeira do quintal. Colocou o nome de vários possíveis e desejados pretendentes em pedacinhos de papel, os enrolou e mergulhou numa vasilha com água, próximo à fogueira, voltou após a meia noite. Esperava que um dos papelitos desenrolasse o que indicaria o nome do futuro consorte. Para sua surpresa , na volta, todos estavam intactos e fechados. O desapontamento inicial, no entanto, foi minorado logo depois. Hortelina atou um anel a um fio de cabelo e equilibrou-o dentro de um copo meio d´água. O anel bateu apenas uma vez na superfície do copo, indicando casamento próximo: em um ano. À tardinha já tinha colocado uma clara de ovo em um outro copo d´água , coberto cuidadosamente com um lenço branco e uma tesoura aberta em forma de cruz. Observou o copo ao varar a meia noite: no fundo formara-se a imagem indiscutível de um navio. As amigas sorriram e confirmaram : viagem próxima. Quem sabe de luz de mel?

Hortelina dançou a quadrilha com um sorriso indisfarçável no rosto.À beira da fogueira ainda tentou ver o rosto refletido na bacia, mas não deu nenhuma importância ao fato de não ter conseguido. As outras profecias mais favoráveis já lhe bastavam. Até se arriscou um pouco mais na batidinha e ficou loquaz, como macananã em roça de milho verde. Pela manhã, arrancou com cuidado a faca da bananeira e lá estava a letra do nome do futuro noivo estampada pelos poderes de São João : “W”. Pensou, pensou, mas não lembrou de nenhum paquera conhecido que se chamasse Washington, Wanderley, Wellington. Deve ser algum arrivista, algum representante comercial que chegará pela cidade nos próximos dias, pensou Hortelina com seu califón.

Os meses se passaram e nada de se concretizarem as profecias. Um belo dia Hortelina , sem mais nem menos, apareceu com uma dor de cabeça súbita e que piorou em poucas horas. No velório disseram ter sido um tal de aneurisma cerebral. As amigas inconsoláveis não entendiam as falhas proféticas de São João: teria comemorado demais no próprio aniversário? Depois começaram a fechar o firo. Hortelina não vira a imagem refletida no espelho: sinal de que aquele era o última festa junina. A clara do ovo mostrara um navio, indicando viagem e nossa solteirona acabara de empreender uma gigantesca: com passagem apenas de ida. O anel , no entanto ,indicara casamento em um ano e a bananeira até apontara que o noivo teria o nome começado por “W” . Onde estava o furo profético? Uma comadre de fogueira foi quem desvendou o enigma. Hortelina tinha olhado a faca ao contrário e virá “W” ao invés de “M”. Seu noivo chegara a tempo e se chamava Morte: bonito, elegante,fiel e principalmente eterno. O noivo que Hortelina sonhara durante toda a vida chegara súbito e apaixonado montado no seu cavalo selvagem.

J. Flávio Vieira

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ainda há juízes em Berlim - Emerson Monteiro

Quando ouvi as recentes notícias do decreto de prisão preventiva para os acusados em processo de irregularidades licitatórias na administração municipal de Senador Pompeu, por parte do Tribunal de Justiça do Ceará, logo lembrei de uma narrativa que cabe aqui contar.

Desenvolvida em forma de versos pelo escritor François Andrieux com o título de O moleiro de Sans-Souci, ela diz que, no ano de 1745, na Prússia, Frederico II desfrutava das benesses de um novo castelo que acabara de construir, quando, da sacada do edifício monumental, analisando a linda paisagem em volta, notou a existência, bem ali nas proximidades, de um moinho que destoava do contexto e enfeava a beleza tão escolhida para o seu desfrute. Nisso, o rei tratou de chamar seus emissários, que buscaram o proprietário da construção oferecendo adquirir o moinho e acabar de vez com o desgosto revelado nos caprichos do monarca. Não contavam, no entanto, com uma pronta recusa do moleiro.

O governante insistiu com veemência nas poderosas intenções, as quais não lograram quebrar a resistência do modesto vizinho.

Vai lá, vem cá, mesmo diante de veladas ameaças, a compra deixou de acontecer. Sob o peso das pressões, o dono do moinho manteria o propósito, recorrendo, em consequência, aos tribunais, sendo dele a expressão famosade que Ainda há juízes em Berlim!

Apelou às instâncias superiores na Capital do país e ganharia a causa. Manteve o lugar do seu moinho. Falam até que, ainda hoje, podem se ver resquícios daquela modesta edificação exemplo de uma justiça isenta e forte, a detrimento dos desejos de quem ocupava o cargo máximo da Prússia naquela ocasião.

...

Em fases nebulosas das crises de moralidade pública, nada mais benfazejo, pois, do que um Judiciário fiel aos propósitos sobre os quais são firmados os poderes constitucionais de uma República de verdade. Por mais audaciosos e hábeis que sejam os meliantes, eles baixarão a crista perante os rigores da Lei bem aplicada nos momentos certos, servindo assim de balizamento às práticas sociais e políticas durante todo o tempo da História.

www.monteiroemerson.blogspot.com

terça-feira, 21 de junho de 2011

As luzes do Amor - Emerson Monteiro

A força maior do Universo veio mudar este mundo. O Amor nasce no coração das pessoas. Diante de toda incoerência das ações, predomina o sentimento superior de quem descobre a força de amar. Jesus aqui demonstrou o potencial que existe de possibilidades no íntimo coração. Quanto tudo parecia inadequado para a descoberta de um plano espiritual, a história se dividia ao meio em face da sua presença inesquecível.

Por mais que a Ciência dos homens mergulhasse nos segredos da Natureza, o senso do materialismo ainda predominava, limitando o poder das descobertas. Ainda que a Filosofia quisesse desvendar os tantos aspectos das investigações do pensamento, daria de cara com as fronteiras do desconhecido que não cabe no método científico. No entanto as emoções sinceras, vindas no seguimento do Amor, revelam os aspectos da alma que tais restrições da matéria deixaram de lado.

Assim tem sido há muito tempo. Grandes luminares, porém, quando admitem o caminho da essência, o campo invisível das percepções, abre espaço nas sábias teses para tais conotações da Verdade.

Nisto somado, reunido o conceito das visões do Espírito, resta exercitar o infinito potencial do Amor nas vidas individuais. Desarmar o instinto da destruição pela destruição, do apego pelo apego, e ampliar as chances de praticar os bons relacionamentos no seio da calma interna.

A consciência disto revela o quanto há de crescimento à disposição, no trato com os valores da liberdade sonhada. Bem próximos de todos, prêmios de realizações permanecem ao dispor esta virtude, cabendo tão só estender as mãos e traze-la a si mesmo. São os bons frutos das atitudes para consigo e com os outros. Esperança. Alegria. Paz e convicção, matriz da paz coletiva. Otimismo. Trabalho. Honestidade. Justiça. Em cada passo uma nova luz.

O sofrimento demonstra o quanto distante alguns ainda habitam longe da aceitação da Felicidade. Ninguém ficará à margem deste recurso, alimento da sobrevivência na Terra. Inconscientemente, no entanto, a Humanidade utiliza agressões do desequilíbrio, por vezes eliminando o direito pleno de outros usufruírem das benesses originais do Tempo. Não poucos, a qualquer custo, largam nas estradas rastros dolorosos de pouca, ou nenhuma, habilidade na existência. Esquecem os que virão e agem quais bichos atoleimados.

Níveis absurdos de prejuízos representam o que precisa mudar na percepção das criaturas humanas, os ingênuos aprendizes deste chão de nossa herança coletiva.
Por isso, ajustes pessoais do sentimento de amar significam a suprema realização de um destino melhor aos acontecimentos, nas responsabilidades do futuro.

Programa Cariri Encantado Sonoridades – 22 de junho de 2011

São João: O Nordeste em Festa

No mês de junho, por conta, principalmente, da data dedicada a São João, se celebram vários festejos que, reunidos, representam a maior festa popular do Nordeste Brasileiro.

De origem europeia, mas com forte influência das tradições indígenas e negreiras, as festa juninas reúnem diversificadas manifestações culturais da região, como a música, genericamente rotulada de forró, a culinária, a religiosidade e os folguedos.

Nas vésperas do Dia de São João, ponto culminante de toda essa festança, o programa Cariri Encantado Sonoridades entra na folia e presta uma homenagem ao santo protetor da alegria nordestina, com destaque para as inconfundíveis voz e sanfona de Gonzagão, que, mais do que ninguém, soube traduzir em música a riqueza desta tradição nordestina.

Onde ouvir
Rádio Educadora do Cariri AM 1020 e www.radioeducadoradocariri.com.

domingo, 19 de junho de 2011

Feridas abertas - Emerson Monteiro


Algo que revira entranhas feito brasa acesa nesses tempos convulsos caracteriza o despreparo da Humanidade para solucionar graves desafios em séculos seguidos. Apenas uma banda de mundo aparenta tranquilidade do ponto de vista social. A outra, amargura marcas profundas em termos de desencanto e desesperança. Espécie de sistema injusto transfere, de geração a geração, fortes heranças deixadas pelas guerras, em desatenção ao mínimo padrão da boa convivência, quando tudo serviu de pretexto à ganância dos menos escrupulosos. O cinismo diplomático ainda representa a regra básica dos povos e países, na conquista dos mercados e escravos.

Trilhões financeiros da riqueza da Terra alimentam a máquina infernal de quantias imensas que movimentam a indústria das armas, o comércio das drogas, os jogos, a prostituição. Praticar respeito entre as criaturas humanas deixou de significar progresso e demonstra fraqueza. Há que se andar tantos caminhos até contar história diferente, de alegria e positividade.

O canteiro de obras desses sonhos bons, no entanto, espera trabalhadores melhor qualificados, pois agora os exemplos torpes de autoridades infiéis aos compromissos coletivos querem fixar modelos perdidos. E o que se vê são caravanas de complicações no resultado parcial da farra política.

A cena dos palcos mostra limitações de não ter tamanho. Atores fantasiados encenam quais marionetes abobalhadas em meio aos gritos desesperados da miséria moral que predomina.

Nisso existem aqueles vendilhões da miséria alheia que usam a bilheteria em favor particular, os ditos ratos de monturo. Sugam as energias das populações de armas em punho, descaradamente qual sendo só seu o que a todos pertence.

Querer narrar a condição humana noutros cadernos mais organizados, ou pintar o barco nas cores amenas, eis o desejo de qualquer sobrevivente do mundo atual. Porém as telas que a realidade oferece quase que em nada mudaram, nos panoramas tristes elaborados desde a antiguidade dos pintores medievais.

Fanatismos, corrupção, distorções legais, administrativas, pornografia, epidemias, poluição, palavras do poema histérico escrito nos ares cinzentos e transcrito nas páginas rudes da civilização.

Esperar por mudanças favoráveis, mesmo que isto represente conscientização e trabalho, nunca é tarde, e recomeçar sempre a jornada. Cada personagem da crise desse chão detém o poder de transformar sonhos em acontecimentos, desde que reconheça disso a enorme necessidade presente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

As mudanças de Generéia


As transformações apareceram de forma insidiosa, assim como o cupim destroçando pouco a pouco uma biblioteca. Quando Matozinho, muitos anos depois, olhou para trás é que percebeu a inexorável ação do tempo. Não só a vila havia pouco a pouco mudado seu leiaute – bastava ver as antigas fotos do lambe-lambe Zèzinho do Papouco – os costumes tinham ido junto. Certamente a chegada da televisão foi um dos propulsores daquela reviravolta. Depois da TV , Matozinho nunca mais foi a mesma. Travestiu-se de ares modernosos embora, no fundo, ainda permanecesse profundamente provinciana. As mocinhas já não mais aceitavam roupas de costureira, queriam as pré-fabricadas com os últimos modelitos das novelas. E os adereços seguiram a mesma tendência: nada mais de gigoletti, de travessa no cabelo e de cara sem maquiagem. Até as velhas já ousavam abandonar os véus, os califons, as combinações e as anáguas. Os rapazes já se espelhavam nas bandas de rock e comentava-se que até mesmo alguns baseados já muitos tinham experimentado. E de nada adiantava o sermão do padre, o esporro dos mais experientes: o mundo velho estava perdido no mato e sem cachorro. Os matozenses recobriram-se de um ar de fidalguia, como se a vida de todos houvesse saltado de uma novela: cada um passou a se achar mais importante que o outro e estabeleceu-se uma epidemia de pabulagem desenfreada.

E foi exatamente nesta época que D. Generéia , que morava no centro, resolveu mudar-se para uma outra casa, numa rua mais afastada. O marido havia perdido uma sinecurazinha que mantinha na prefeitura e a coisa apertara. Viu-se Generéia numa sinuca de bico. Primeiro não podia passar por baixo ( e isso lá era papel de atriz de novela!) e aceder que saía por pura liseira e , mais, que estava se mudando para uma casa mais pobre sita num cuvioco , próxima à famigerada Rua do Caneco Amassado. Uma notícia dessas não carregava nenhum glamour, nem era digna de um script de mini-série. Espalhou, de peito aberto, que havia sido recomendação de Janjão da Botica, uma tentativa, de mudando de clima, melhorar a asma feroz e o chiado de peito de que Generéia assumiu ser acometida. “É uma questão de tempo, vou mais prá veranear e quando voltar não venho morar perto dessa rafaméia aqui, não, já estamos pensando em fazer um palacete na nossa chácara no pé da serra da Jurumenha” , disse uma Generéia orgulhosa e cheia de si , com cara de Odete Roitman.

Após a enfática declaração de Generéia, pulou no meio do terreiro um outro problema: a mudança. É que não existe neste mundo de meu Deus uma coisa mais desmantelada que mudança de pobre. Imaginem uma carroça repleta de cacarecos velhos, soltando , como uma medusa, perna prá tudo quanto é lado. E mais: tendo que ser providenciada em várias viagens, durante o dia, já que no escuro não há nenhuma condição de se fazer o translado. É como se , de repente, a família expusesse suas entranhas à execração pública. A necessidade de uma mudança com essas características, certamente contradizia os atuais padrões globais da cidade de Matozinho. Se ao menos houvesse um caminhão baú, levando os teréns tudo entocado no breu da madrugada! Mas carroça!

Manhãzinha chega o carroceiro “Paçoca” com sua carrocinha, acompanhado de uns três moleques para assessorar no penoso mister. Os vizinhos observavam de longe, mantendo distância regulamentar, esperando de dentes e língua afiados, o momento de pinicar o oratório da pábula companheira de rua. Generéia postou-se na janela e começou a irradiar a mudança, em voz alta. Era uma desesperada tentativa de minorar um pouco a caótica visão dos cacarecos dependurados, utilizando alguns recursos da publicidade. Quando “Paçoca” pegou a Tevezinha preto-e-branco de umas quatorze polegadas, Generéia gritou para que todos ouvissem:

--- Meu povo ! Cuidado com a TV de Plasma !

Logo depois, os assessores recolheram os brinquedos dos filhos e colocaram numa caixa de sapato : uma peteca, duas bolas de gude, um triângulo, uma carrapeta e um pião. Quando traziam para a carroça, Generéia alarmou:

--- Epa ! Cuidado prá não quebrar o Videogame dos meninos, viu?

Quando “Paçoca” pegou a chaminé do fogão de lenha, repleta de pucumã e arrumou aquele cone preto retinto no meio da carga, Generéia saltou de lá e alarmou:

--- Preste atenção, seu Paçoca ! Vê se não arrebenta minha coifa, joviu?

Logo depois, os três moleques, com uma dificuldade imensa, pegaram a jarra de barro cheinha de água e, cambaleando pelo peso, começaram a levar até à carroça para colocar em cima da cantareira que lá já estava acomodada, com uns quatro canecos pendendo pelas beiras. De repente, o pote liso escorregou e lascou-se no chão. Foi água para tudo quanto é lado. Do outro lado da rua, Zé Fubuia que observava tudo: o fato e a versão bradou a todos pulmões:

--- Acode minha gente ! O Gelágua de Generéia partiu-se no meio !


J. Flávio Vieira

Sonhos de liberdade - Emerson Monteiro


Sob o signo de uma dessas reflexões que afloram o espaço misterioso entre a memória e o cotidiano, quando a gente pára o tempo e fica só visando o nada a nossa frente, qual quem quer fugir para lá do mais adiante, senti de perto esse intervalo gigantesco que nos espera, pois sentir a dor representa o que de diferente existe do eu atual ao Eu que, certo dia, perto ou distante, a ele chegará, ao Ser definitivo.

Com isso, viajei nas asas frondosas dos sonhos de liberdade. Esse desejo transcendental do ser feliz nos braços macios da leveza eterna, de que tanto falam sábios e místicos. Pisei suave a lã do coração pelos bastidores, buscando melhor o lugar de sonhar confortável. Viver comigo em paz, paz com o mundo. Persistir na imaginação das coisas boas habitando tetos longe da contradição que, por vezes, quer modificar o sabor de framboesa das saudades inesquecíveis.

Andei que andei, e olho as variantes do comboio de humanidade que transportamos em nós próprios, o tanto que somos cada um de nós. Nos compassos de música das inspirações momentâneas, essa vontade avassaladora de crescer para os céus fincou raízes impacientes, que fustigam as correntes escondidas do solo de carne onde ainda habitamos.

As histórias dos filmes falam disso, os filmes bons que tocam as cifras do lado interno, os livros deliciosos, as músicas... Flutuar nas doces avenidas das obras da ficção bem conduzida aos endereços agradáveis, para o destino de finais positivos. Jamais entregar o esforço dessas realizações a qualquer diretor, porquanto o custo das produções da vida reclama tremendas responsabilidades.

Andei que andei, que andei, e revejo lugares das grandes emoções, que testemunham as possibilidades infinitas para concretizar os tais sonhos. Alimentar acordes na harmonia dos fortes traços de autores geniais, sobreviver ao vasto continente da felicidade, sem abrir mão do direito natural de gerar seres andarilhos do amor pelos percursos das noites ricas de revelações, agentes da transformação construtiva e decente.

Deixo, pois, deslizar plumas de pensamentos na forma de imagens coerentes, lindos painéis de calma nas florestas do Paraíso. Acreditar no Si das notas musicais. Há luzes que clareiam conquanto marcas de relacionamentos ajustados, paridos nos pastos da mãe tranquilidade. Construções coordenadas em blocos justos, ao vigor das leis permanentes, no permanentemente.

Os velhos sonhos são aqueles que seguem transportando os humanos, mantendo-os nessa incansável jornada de retorno às estrelas, fulgor do carinho na força dos amores para sempre. E sonhar por isso com alegria de continuar.

Ajustes na Programação da I Mostra Crato de Cinema & Video


17/06/11 ( Hoje- Sexta -Feira)

19:00 H

- Curta "O Cinematógrafo Hereje" de Jefferson Albuquerque Jr.

- Curta “Dez anos do Chá de Flor" de Cristina Diogo e Maria Dias.


18/06/11 ( Sábado)

14 h- Exibição dos filmes

- Curta “Caldeirão do Beato Zé Lourenço”, de Catulo Teles e Franciolli Luciano.

- Curta “Cabaré-Memória de Uma Vida”, do Coletivo Camaradas.

- Curta “Catadores de Pequi” de Zuiglio Brito e LaislaYanael.


17:00 H - Exibição de Longas

- Longa - "Sargento Getúlio" de Hermano Penna

-Longa- "Padre Cícero" de Hélder Martins

ENTRADA FRANCA

Realização: Governo Municipal do Crato – Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude.

Apoio: Universidade Regional do Cariri (URCA), Instituto Cultural do Cariri (ICC), Officinas de Cultura e Artes & Produtos Derivados (OCA), Bantim Produções, Coletivo Camaradas, Blog do Crato e Revista Chapada do Araripe.

É HOJE ! REAPRESENTAÇÃO DE " O CINEMATÓGRAFO HEREJE "


REAPRESENTAÇÃO HOJE (SEXTA) !

HORA : 19:00

LOCAL- CINE TEATRO MODERNO

ENTRADA FRANCA

SIMBORA !

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Esse instrumento a mais - Emerson Monteiro

Notícia divulgada pelo jornal Diário do Nordeste, edição de 13 de junho de 2011, dá conta de uma pesquisa realizada pelo instituto Detafolha, em parceria com a agência de publicidade Box, onde são avaliados estudos a propósito da utilização, pelos jovens brasileiros, da rede internacional de computadores, a Internet, qual dispositivo de mobilização social. Dos números apurados entre 1.200 entrevistados na idade de 18 a 24 anos, 71% afirmaram que é possível fazer política usando a rede sem intermediários, como os partidos, segundo a notícia.

Isto, segundo especialistas ouvidos, revela um esgotamento do modelo tradicional de mobilização e impõe um desafio aos que pretendem assumir a representação dos jovens.

Cremos, no entanto, que a validação institucional da participação do cidadão na organização política exige sua presença também junto às agremiações partidárias, sob pena de permanecer à margem dos resultados desse processo. A contradição que isto significa são os recentes acontecimentos mundiais do Oriente. No Egito, por exemplo, diante dos esforços da agitação de multidões, o governo do presidente Hosni Mubarak conheceu sua derrota e abandonou o país.

Contudo, os dividendos dessas atitudes sociais bem sucedidas escorrerão, sem sombra de dúvidas, para a classe política já estabelecida nos partidos de antigamente, os únicos donatários habilitados nas regras do jogo e nas tradições constitucionais do Estado, o que representa a sociedade politicamente organizada.

Com isso, todo empenho das lideranças românticas, expresso através dos movimentos das massas, de novo apenas bateram as esteiras, como diz o jargão das vaquejadas, para outros puxarem o rabo do boi e ganhar os prêmios, ou as aragens do poder instituído.

Mergulhar fundo na ordem estabelecida, participar dos métodos de corpo inteiro, ou facilitar o acesso de lideranças comprometidas com os velhos valores em decomposição. No Brasil de recentes décadas, vivemos situações idênticas, nas Diretas Já e no movimento dos Caras Pintadas. Recolhidas as fixas e as bandeiras, outro time entraria no campo a fim de arrecadar o saldo para suas próprias cotas de poder.

Nesse vai e vem, há avanços, porém apenas relativos, em vista do despreparo dos verdadeiros agentes do processo da mudança. Necessitaria de continuidade e condução objetiva das ações empreendidas, invés de largar a conquista nas mãos dos oportunistas de plantão.

Sim que a Internet dispõe de amplo potencial de mobilização social, desde que consolidado junto aos demais instrumentos desenvolvidos no decorrer da história. Em consequência, longe de entregar o ouro ao bandido, a racionalização desses novos meios irá proporcionar resultados vivos em termos de utilização da tecnologia nas transformações coletivas.

Programação da I Mostra Crato de Cinema e Vídeo - Dia 16/06, Quinta-Feira

9h – Exibição de curtas da ONG “VERDE VIDA” – Mestres da Cultura, de Genivan Brasil e Paulo Fuiska. “Box de Vídeos”, dos alunos do Verde Vida.

10h – Exibição do curta “Assombrações do Cariri”, documentário de Jackson Bantim.

14h - Exibição dos curtas: “Matando a Fome”, de Franciolli Luciano; “Músicos Camponeses” e “Chapada do Araripe - Como foi, como será? (parte III)”, de Jefferson de Albuquerque Jr.

15h10 - Exibição do curta “Seu Mundô, O Guardião da Floresta”, de Laerto Xenofonte.

15h30 - Roda de Conversa: “Estórias de Cinema: colóquio com cineastas, produtores, atores e cinéfilos. Reativação do Cine-Clube Crato”.

19h - Exibição do média “Formação Romualdo, um Milagre Paleontológico”, documentário de Jackson Bantim e Álamo Feitosa.

19h30 - Exibição do longa “Corisco e Dadá”, de Rosemberg Cariry;

ENTRADA FRANCA

Realização: Governo Municipal do Crato – Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude.

Apoio: Universidade Regional do Cariri (URCA), Instituto Cultural do Cariri (ICC), Officinas de Cultura e Artes & Produtos Derivados (OCA), Bantim Produções, Coletivo Camaradas, Blog do Crato e Revista Chapada do Araripe.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vida Virtual


Talvez uma das mais trágicas conseqüências da modernidade tenha sido a abolição definitiva da calçada. Algumas décadas atrás, a calçada era uma extensão da nossa casa, uma espécie de play-ground que freqüentemente se estendia para as ruas próximas , ainda com pouca iluminação e sem a feiúra negra do asfalto. Sim, o asfalto que se alastrou pelas ruas como uma tarja preta identificadora do luto das pequenas vilas com a perda do seu ingênuo e doce provincianismo. As calçadas fazem hoje parte integrante das avenidas e não das residências que elevaram seus muros e grades, em feitio de prisão e observam temerosas a vida lá fora que sua, arde e sangra. Doce tempo aquele em que as famílias, à tardinha, punham as cadeiras na calçada , olhando para a lua e mastigando as últimas e picantes novidades da Vila. Ao seu derredor, as crianças brincavam de “Roda”, de “chicote queimado”, de “esconde-esconde”, de “Lagarta Pintada”, “Cadê-o-Grilo” e de “Bandeira”, sob o apaziguador olhar dos adultos. Bons tempos aqueles! A vida era mais simples e corriqueira, as mazelas do mundo não nos atingiam, a violência era um simples capítulo no nosso Livro de História Antiga. Éramos felizes sem que ao menos o percebêssemos . E no inventário dos nossos bens o que constava? Uma rua barrenta, uma lua plácida, a mão amiga do vizinho, uma baleadeira , uma bila , um pião... A felicidade fluía fácil desses objetos como ,se por encanto, tivesse sido tocada pela condão da Fada Madrinha.

Nem é preciso dizer que este tempo está definitivamente sepultado. A tecnologia triturou impiedosamente a simplicidade e o Consumo pôs regras sinistras e colocou um Código de barras na nossa felicidade.Vivemos todos “No Limite”, nos matando numa batalha sem vencedores. Quem vai para o trono ? Ao Vencedor, o Enfarte!

A tecnologia encurtou, enormemente, a distância virtual e alargou, infinitamente, a nossa geografia real. O Celular, a TV, o Fax, a Internet nos ligam em segundos à Indochina mas já não somos capazes de conhecer o vizinho que divide a mesma parede do nosso apartamento. Nem o soldado, no Iraque, tem o direito de saber quem o matou. Esta mudança na geografia mudou ,também, a história das nossas relações humanas. Falta-nos o toque, o olho-no-olho, o abraço, o beijo. Não mais vivemos uma realidade mas uma virtualidade e todos nossos podemos ser eliminados , a qualquer momento, como um simples monstrinho da primeira fase de um videogame. Bons tempos aqueles da cadeira na calçada, quando ainda existia um amigo palpável e uma lua no céu....

J. Flávio Vieira