Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Luis e o Encantado Cariri - José do Vale Pinheiro Feitosa

Luis procura o encantado. Aquilo que atrai e deslumbra por suas belezas. Mas isso é pouco. Ele não apenas busca o encantado, tenta achá-lo num tempo e num espaço. Isso porque o Luis tem forte atração pelas qualidades das coisas do território e do tempo que gestou tais coisas. Ele sabe que na raiz desse gerador de coisas há uma mágica, um feitiço indígena que revela na mediocridade desta pequena burguesia urbana um simultâneo do aqui e agora com um sempre já acontecido.

E estou a falar do encantado Luis Carlos Salatiel, que nem lembro se escrito com z (tenho preguiça e ir procurar na internet), mas tem uma mágica de admirar-se deste cotidiano entre a modorra que parece parar o tempo e o agito que destrói coisas belas. Quando pensamos numa estética e no fazer cultural, tendemos a achar as modas que salientam momentos. Esquecemos desta anarquia simultânea, que tonteia a mente vulgarizada em drops de realidade.

O encantado do Luiz Carlos é a estética mais longeva do que foi, por exemplo, certas expressões culturais dos anos 70, que para a geração dele explodiu sobre um rock que juntava o pop com algumas expressões das feiras nordestinas. Pena que o Cariri não tinha uma capital para fazer-lhes o que fez, por exemplo, com a geração de Zé Ramalho na Paraíba.

Pegue um Zé Nilton, com suas canções que lembram Chico e sintam o quanto do encantamento do Cariri há nelas. Os irmãos Abidoral e as canções que não se inscrevem mais no bucólico estilizado dos grandes centros urbanos, pois refletem o dia-a-dia do Cariri. Eles não são um Humberto Teixeira, nas sua cátedra carioca a fazer belos versos de um afastado sertão. A geração de Luiz (é com z?) não se afastou, ficou e quem quiser futura que se abebere nela.

Outro dia, o bom Maurício Tavares lembrou certa estagnação cultural, inclusive de consumidores de cultura. Acho que o Luis (é com z?), o Zé Nilton que anda um tanto saudoso da velha guarda e tantos outros, apesar do aburguesamento de uma vida ordeira e familiar, ainda continuam com a mágica da região. Ela é algo como fez no Cinema Novo o Glauber, mesmo com seus exageros autorais e o saco das novas gerações com aquela estética.

É o encantado cariri. O Cariri Encantado. Esta é a estética de descobrir um mundo que parece nunca mudar e, no entanto, muda numa velocidade quase absoluta. Uma mudança que muitos acham que parece com aquela de Lampedusa no seu Leopardo, para tudo ficar o mesmo. Não é esse o que o Luis encontra. No encantado cariri. Tem mudança com um mistério de feitiço indígena.

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