Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Conversa sobre a ponte do Rio Batateira - José do Vale Pinheiro Feitosa

- Prá donde o sin-ô vai? Posso saber pru modi di quê?

- Vou torar a volta do tempo, botar a banda que diz “num vou” prá fazer uma corrida e acalmar a banda doida que só quer correr!

- Num faça isso! O patrão dos dia num vai gostar! Ele quer o mundo inguazin tá no canto do galo.

- E o gosto do patrão só engorda o braço que desce o relho. Ele quer mesmo é esta trava que nem vai e nem fica. A trava que desespera e justifica o emprego das chibatas no povo de todos os dias.

- Mas deixe de sê besta. Nem tu teim força pru modi morgar a vorta do tempo e neim corage de rodar as banda cum outra qualidade.

- E tua já viste limite para a vontade? Ela é feita das coisas do mundo. A vontade não é coisa do sonhar. Ela está tanto no atoleiro que pára o ônibus quanto no chão liso que escorrega o cristão.

- Mas a vontade do patrão é beim mais parruda que a tua!

- De modo algum. A vontade dele é menor do que a minha, pois a volta do tempo está enganchada. O que ele tem de diferente é o talho que faz nas carnes.

- E pru modi de quê tu qué sofrê. Jesus morreu crucificado e neim por isso o povo deixou de ser safado. Tu se assacrifica e o povo num amiora.

- O senhor nem pensa no que fala. Nem ouve o que digo. Eu não estou falando da miséria de cada um. Estou é falando no engancho da volta do tempo.

- Mais se o povo num muda num teve nein-uma valia o teu sacrifiço.

- Deixe as bandas girarem de modo diferente. Deixe que elas fiquem mais harmônicas, nem paradas e nem correndo. Aí o povo é quem vai se sentir desenganchado. E povo desenganchado é como um rio que corre no leito.

- Oxém mais dá enchente Leva os teréns que encontra no rumo da venta. Arreia as coisas, dar bundacanastra no que tá in pé, tora o inteiro e separa o que tá soldado.

- Mas o rio precisa das chuvas para ser rio. E se precisamos das chuvas não pudemos ser contra a natureza dos temporais.

- Vôti! Arri égua. Tu num teim jeito mermo. Tudo que eu disser teim resposta.

- É por que lhe respeito. Não posso ficar calado para uma pergunta que me faz.

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