Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Curimã

Zé Curimã, matuto do pé rachado, começou a sentir umas coisas estranhas quando ia para roça. Pelo olho direito via a imagem duplicada. No início, até brincava, apontando para o órgão defeituoso: “Este olho aqui é para cubar moça bonita e receber o apurado do patrão no fim de semana”. Com o passar dos dias, no entanto, começou a se preocupar: a vista começou a ficar meio borrada e depois de umas três topadas em bico do toco, no roçado, resolveu procurar ajuda. Morava nos canfundós do Judas, numa cidadezinha do Rio Grande do Norte, de nome poético e voluptuoso : Caiçara do Rio do Vento. Dirigiu-se ao boticário Filismino, homem versado nos mistérios das raízes de pau e contou suas queixas. O homem lhe receitou uma garrafada que englobava um sem número de meizinhas : malva, jalapa, boldo, carqueja, jurubeba,alecrim, alfavaca,arnica, babosa, capim santo, marcela, meio litro de aguardente, tudo isso colocado junto em uma garrafa e enterrado no chão por quatro dias. Depois de exumada a beberagem foi tomado parcimoniosamente em jejum: uma colherinha no primeiro dia, duas no segundo, três no terceiro, indo num crescendo até o nono dia, quando deveria fazer o movimento contrário pelo mesmo período, subtraindo uma medida do medicamento a cada tomada. Curimã assim o fez, mas ao final, sabe-se lá porque, não teve melhora. Valeu-se, então, de um sobrinho que trabalhava em Recife e para lá partiu, pegando carona em caminhões, até que, uns cinco dias depois, chegou à Veneza Brasileira. Quase não encontra a casa do parente que se escondia em Brasília Teimosa.

Valderedo, o sobrinho, já vivia há mais de dez anos por lá e era fiteiro com uma pequena banquinha próximo ao Mercado São José. Versado nos ínvios caminhos da pobreza, encaminhou Curimã ao Hospital Pedro II que , na época, era o hospital escola da Universidade Federal de Pernambuco. Zé , talvez por conta do estranho da sua doença, teve um atendimento muito humanizado. Os estudantes o internaram e começaram a fazer uma quantidade enorme de exames, até chegar ao diagnóstico. Um tumor benigno que comprimia o nervo óptico do lado direito e que precisava ser operado. Zé teve a sorte de ter como neurocirurgião a sumidade nordestina da época : Dr. Manoel Caetano de Barros. Recuperou-se bem e uns dois meses depois Valderedo o encaminhou de volta à sua Caiçara.

Lá chegou um pouco mais magro e mais falante, com o cocuruto ainda pelado, mas já empenando. Cidadezinha sem meios de comunicação, rapidamente Curimã se transformou na celebridade do lugar : uma espécie de Neymar na Vila Belmiro. Recolheu-se um pouco, fez mistério, mas à noite, não pode resistir à tietagem. Reuniu uma centena de curiosos no oitão da casa e começou a narrar sua peregrinação às terras de Manuel Bandeira. Botou um pouco de tempero na história, exagerou daqui, esticou dacolá. Às duas horas da manhã não tinha chegado nem em Recife ainda. A seção foi então suspensa e, no dia seguinte, reabriram-se os trabalhos, com a mesma audiência. Como não temos a intenção de fazer um romance, vamos resumir a história de Curimã, centrando no mais interessante do relato: os detalhes da investigação diagnóstica e do tratamento.

Curimã necessitou fazer vários exames especializados. Dentre eles, uma punção na coluna para recolher e estudar o líquido que por ali existe e que tem o nome complicado de Céfalo-Raquidiano. Assim descreveu Zé , suas agruras naquele dia, para uma platéia volumosa e boquiaberta.

--- Me botaram dobrado dentro de uma cumbuca. Aí chegou um carcará com uma suvela e começou a enfiar no meu cangote, sem pena, meu sinhô!Parecia que enviava a gaita em saco de milho. Vuco-vuco-vuco ! Só não caguei porque não tinha merda pronta! Quando ele parou, pensei que tinha acabado , mas nada ! Começou a chupar um negócio do meu Tum-tum, tanto, tanto que até os cabelos arrepiados se pentearam em procura do xunxo! Quando terminou parece que eu tinha botado Brilhantina Glostora na cabeleira !

No dia seguinte, Curimã foi encaminhado a uma Clínica Radiológica especializada em exames neurológicos. Fico na sala de espera, meio cabreiro, observando a clientela: um com a boca torta, outro com a banda morta, aquele cego, este mouco, aquele tresvariando. Pelo carrego dos companheiros imaginou que sua situação não era das melhores. Lá para as tantas, saiu uma mocinha numa maca, da sala de radiologia, toda se contorcendo, em plena crise convulsiva. Zé, espantado, fez a pergunta que lhe pareceu mais cabível naquelas horas:

--- Espere ! Todo que entra lá dentro, sai assim ?

Curimã teceu loas intermináveis ao Dr. Manoel Caetano. Aquilo sim é que era um médico ! Salvou minha vida, sem qualquer pagamento! Deus te dê fartura e felicidade e te livre do mal vizinho! Perguntado como estava pela multidão de curiosos, disse que estava muito bem, graças a Deus e ao Dr. Manoel Caetano. Precisava agora só pagar a promessa que havia feito com os Nove Reis Magros. Algum dos circunstantes achou aquilo estranho :

--- Ainda bem que você se recuperou, Zé ! Devia ser muito chato aquilo de tá vendo tudo duplicado. Mas você não tá enganado, rapaz ? Os Reis Magros são apenas três !

--- Três ? Mas rapazes , é mesmo ? Pois acho que foi isso! Eu tava vendo tudo dobrado, pois depois da cirurgia do Dr. Manoel Caetano , curei : comecei a ver tudo triplicado !

J. Flávio Vieira

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Melquíades Pinto Paiva - Emerson Monteiro


Neste dia 21 de outubro de 2011, sexta-feira, às 20h, será a vez do agrônomo cearense Melquíades Pinto Paiva preencher uma das cadeiras do Instituto Cultural do Cariri, em sessão solene que ocorrerá na sede da agremiação em Crato, de portas abertas ao público.

Natural de Lavras da Mangabeira, filho de José Rodrigues Tavares Paiva e Creusa Pinto Paiva, Melquíades nasceu em 06 de março de 1930. Pertence ao clã dos Augustos, núcleo familiar originário da matriarca sertaneja Fideralina Augusto Lima.

Nos anos 1957 e 1958, ele estagiou no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, especializando-se em Ictiologia. Cientista respeitado, obteve o título de doutor em Ciências, através do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Na Universidade Federal do Ceará, foi o diretor-fundador do atual Instituto de Ciências do Mar (1961 a 1976) - Labomar, e o primeiro chefe do Departamento de Engenharia de Pesca (1973 a 1976), havendo contribuído para a implantação do curso de Engenharia de Pesca da UFC. Agora, é diretor-emérito do Instituto de Ciências do Mar (desde 2003).

Outros títulos de sua vida acadêmica: Professor visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro, lotado no Departamento de Biologia Marinha (1992 a 1998); pesquisador bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1993 a 2003); e coordenador da equipe responsável pelo levantamento dos dados pretéritos referentes a recursos pesqueiros, estuarinos e marinhos do Brasil, junto ao Programa de Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva, conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (1996). Permanece desenvolvendo atividades de natureza científica e técnica.

No ano de 1944, Melquíades Paiva estudou no Cariri, sendo aluno do então Ginásio Diocesano do Crato.

Intelectual e escritor de largo prestígio, são de sua autoria centenas de artigos científicos e obras quais: Nordeste do Brasil, Terra e Gente; Ecologia do Cangaço; Conservação da Fauna Brasileira; Administração Pesqueira do Brasil; Represas e os Peixes Nativos do Rio Grande; As Bacias do Paraná – Brasil; Breves Memórias do Espaço e do Tempo; A Contribuição Portuguesa para o Estudo das Ciências Naturais do Brasil Colonial; Fauna do Nordeste do Brasil; Grandes Represas do Brasil; Os Naturalistas e o Ceará; e Trabalhos Esparsos, Agora Reunidos; isto para citar apenas algumas das publicações desse autor destacado, que representou o País em 19 missões científicas internacionais e desempenhou importantes delegações junto a órgãos da comunidade mundial em nome da Ciência brasileira.

Melquíades Pinto Paiva ocupa cadeira também no Instituto do Ceará e na Academia Lavrense de Letras, dentre outras instituições culturais.

domingo, 16 de outubro de 2011

Para que servem os desafios - Emerson Monteiro


Nas condições dos momentos, à frente das portas de sempre, em qualquer lugar, ou diante das ordens do espaço de viver, ninguém passa pela vida longe de enfrentar limites e desafios. Porteiras abertas da criatividade, transações de aproveitar o tempo, cabe aos indivíduos a epopéia das horas ligeiras de experimentar as oportunidades e conhecer os meandros da natureza mãe que morar em si.

O que parece filosofia, na realidade anda um pouco mais. Mostra, sim, que encarar a viagem através das pedras do desconhecido servirá de orientação a fim de observar o mistério espalhado na paisagem da chamada existência. Ninguém representa só passageiro inútil desfilando nas malhas de impunidade... Os mínimos aspectos dessa estrada abrem-se aos seres fantásticos que habitam nossa espécie, desde mulas sem cabeça a sacis impertinentes, a título da imaginação inesgotável e aos pedidos de compreender o enigma dessas ocasiões sucessivas.

Um olhar fixo dentro da gente, a luz da Consciência, demonstra responsabilidades imensas diante dos caminhos da salvação trazidos nesse território. Há sentido nas visões da janela do trem, que desenvolve velocidade quase acima das nossas forças, enquanto o conhecimento de aproveitar ao máximo o percurso desliza no vento. Invés de querer definir para dominar, deixar entrar, nos cômodos da alma, o hálito rico do inesperado, das boas práticas da liberdade, no sonho intenso de manter abertos os olhos de enxergar as maravilhas.

Isto com a paciência das crianças e dos santos... Saber suportar o calor de lutas, às algumas vezes inglórias, no furor das tempestades, lições necessárias ao desapego de valores inúteis, na poeira que esvoaça e dobra nas curvas do destino.

Bom, falar de paciência e infinitude jamais esgota o assunto, senão perder-se-ia dos próprios nomes. Saber ler nas entrelinhas das palavras que querem dizer coragem. Paciência inesgotável, pois.

E, nisso, amar acima de tudo... Amar todos, independente de credo ou cor... Amar, na simplicidade incondicional dos sábios, ao Sol das religiões e das vivências da esperança.

Para, depois, lembrar com alegria os instantes do roteiro quando assistíamos aos melhores filmes na sala surpreendente das histórias coletivas, ao sabor do eterno. Aceitar as imposições e os bloqueios quais respostas às ações do que produziu em face desses desafios. Preparar, no instante atual, o que as leis do bem querer ofertam logo em seguida aos praticados. A quem quer bondade, que plante a semente no coração das pessoas que, juntas de nós, andam na perene estrada do Infinito, nisto se acha o resumo das escolas do saber.

sábado, 15 de outubro de 2011

"O Mistério das 13 Portas..." no CCBN

Memória Fotográfica

Show de Lançamento de:
"O Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado da Ponte Fantástica"
de J. Flávio Vieira
Ilustrações de Reginaldo Farias

Produção : Luiz Carlos Salatiel

Centro Cultura Banco do Nordeste
Dia das Crianças



Grand Finale

Cacá Araújo, Orleyna Moura e Isaura Araújo ( Companhia Cearense de Teatro Brincante )



Salatiel e Leninha Linard ( "Vida ")



Fatinha Gomes ( "O Beato Zé Lourenço " )



João Nicodemos ( "O Rei da Serra ") , Jocean ( Banda )



André Saraiva ( "Zé de Matos" ), Ibbertson e João Neto ( Banda )



Zé Nilton ( "Padre Verdeixa" )



Reginaldo Farias ( Ilustrações )



J. Flávio Vieira ( Texto )




Ulisses Germano ( "Zé Bedeu")



Abidoral Jamacaru ( "Noventa " )



Coral Mensageiros de Cristo e Lifanco ( "Príncipe Ribamar" )




Amélia Coelho ( "Maria Caboré " )



L.C. Salatiel ( "Vicente Finim " )



João do Crato ("Capela" )

Pachelly Jamacaru ( "Tandô )



Elisa Moura ( Canena )



Cacá Araújo e Orleyna Moura ( Catirina & Mateu " )


Lifanco ( "Mateu & Catirina" )


Platéia


Fotos : Harrlem Rezende

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dia da Caça


Aí pelos anos 40-50, um dos principais lazeres da cidade era a caça. Época do boom do cinema hollywoodiano, nossos antepassados --- à moda James Dean --- montavam em suas selvagens motocicletas e subiam a Chapada, nos fins de semana. Eram grupos e mais grupos de amigos, acampados na serra, à procura de veados, jacus, tatus e cutias. Imaginavam todos os recursos da natureza como infinitos e, antes dos olhos atentos do IBAMA, o impacto biológico terminou por se fazer inevitável. Profundamente machista, o costume dava um salvo-conduto aos homens por todo o fim de semana, longe dos olhos fiscalizadores das patroas. O esporte praticava-se por mero hobby , muitas vezes matavam-se mais as garrafas de aguardente levadas a tiracolo do que os animais que pretensamente se pretendia caçar.Sem falar que muitas vezes perseguiam-se, às escondidas, outros animais muito mais jeitosos, que estranhamente vestiam saias e usavam perfumes franceses.

Entre tantos caçadores, tínhamos uma das figuras mais emblemáticas do Crato, hoje injustamente esquecido: o Padre Irineu Limaverde. Filho de uma das mais tradicionais famílias caririenses, nosso pároco era uma figura interessantíssima. Bondoso, educado, virtuoso,delicadíssimo com todo seu rebanho, era , por outro lado, uma figura excêntrica. Criava cobras das mais diferentes espécies, fornecendo inclusive muitas para o Instituto Butantã em São Paulo. Além de tudo, mostrava-se onívoro e gostava de provar da carne de muitos bichos , usualmente descartados nas cozinhas : serpentes, morcegos, raposas. Não muito diferente dos chineses. Criado no campo, ali no Sítio Fábrica, próximo à Santa Fé, desde menino aprendeu os mistérios da caça e este esporte o acompanhou até que a indesejada das gentes o tolheu, nonagenário, contemplando a mesma paisagem que viu ao nascer. Há duas histórias do nosso Padre Irineu que gostaria aqui de relembrar, até para trazer de volta à memória do Crato, uma pessoa tão especial.

Num fim de semana, saiu ele e um morador para uma caçada. Subiam da Santa Fé ao topo da serra a pé. Acompanhava-os um jegue levando os apetrechos necessários e os víveres para a jornada de três dias. O sacerdote levava na mão o inseparável Rádio Transglobe que usava para ter informações do mundo, no período em que ficava recluso. O Rádio ia sintonizado em uma estação e executava algumas músicas que ajudavam na estafante subida. Lá para as tantas, já cansados do alpinismo, o morador teve uma idéia que parecia genial. Por que não colocar o rádio no meio da carga do jumento ? Assim iam ouvindo a música e se viam livre do peso. O padre achou a proposta plausível: já ia de língua de fora. Pôs cuidadosamente o rádio na cangalha, entre uma e outra mala e continuaram a subir a ladeira. O problema é que o jumento estranhou aquele barulho, torceu uma orelha para um lado a outra para o lado da cangalha e, de repente, fez parafuso no rabo e saiu em desabalada carreira serra a dentro. O padre e seu acólito ainda tentaram acompanhá-lo, mas foi impossível. Nunca mais viram o jumento, as malas e o rádio. Este caso fez com que o Padre Vieira, no seu fabuloso livro : “O jumento , nosso irmão” , tenha concluído , definitivamente, que o jegue não possuí muitas aptidões musicais.

De outra feita, nosso querido pároco subiu a serra sozinho e escolheu ,cuidadosamente, a árvore para a espera. Colocou a seva abaixo e trepou-se com cuidado. Era tardizinha, próximo ao crepúsculo. Irineu gostava de usar uma capa grande e espessa para protegê-lo do frio e um chapéu xadrez tipo Sherlock Holmes. Ficou lá em cima, acomodado num galho, com o Rádio de um lado e a espingarda do outro. De repente ouviu algum barulho, mato abrindo e fechando. Observou bem e viu que , coincidentemente, se tratava de mais dois caçadores . Chegaram, observando o ambiente e as condições de espera. Um deles achou que ali parecia o lugar ideal, pois até seva já tinha. Combinou com o companheiro que resolveu subir na árvore vizinha. Quando o promotor da caçada fez finca-pé para subir , já anoitecendo, ao levantar a cabeça, observou aquela moqueca lá em cima. Tomou um susto e assoviou para o outro que já ascendia nos galhos de um pequizeiro vizinho. Assustado o promotor pedia uma ajudazinha de coragem ao camarada. Quando o de lá atendeu ao assovio, o de cá mostrou com o dedo a aparição no topo da árvore. Quando o cabra viu aquela arrumação, ao invés de ajudar ao amigo, saiu em desabalada carreira, mato a fora, sendo acompanhado, incontinenti, pelo pedidor de socorro. Ouviam-se apenas os gritos, a mata abrindo e fechando, e as quedas de um e de outro nas ribanceiras. Lá para tantas, Irineu entoou um grito longo e grave :

---- UUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!!

Só ouviu quando um dos cabras gritou arfante, em plena carreira, para o colega :

---- Meu Deus ! E o bicho fala !!!


J. Flávio Vieira

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

História do eterno insatisfeito - Emerson Monteiro


Deus do antigo santuário grego, conhecido por Tântalo, lá um dia quis agradar os outros deuses, recebidos em festivo banquete, servindo-lhes carne do próprio filho, isso para testar a ciência deles tudo saber. Tal qual acontece a três por quatro entre seres humanos a fim de obter os favores escorregadios deste chão, vendeu a quem mais gostava numa atitude interesseira... Dominar o mundo e subir nas condições sociais. Matam e arrebentam, pisam a cabeça dos outros e invadem o camarim das vaidades querendo aparecer nas colunas dos jornais.

Pois esse personagem existiu, sim, na cultura grega, passando depois de geração a geração. O deus de nome Tântalo, casado com Dione, possuía três filhos, Níobe, Dascilo e Pélops. Naquele dia do banquete, ofereceu Pélops, aos demais deuses do Olimpo que o visitavam. Na ânsia de obter os favores dos céus, Tântalo antes havia abusado da confiança dos poderosos ao roubar-lhes néctar e ambrosia, substâncias de que necessitava para ser um imortal semelhante a eles.

Nesse caminho de tanta contradição, receberia de troco a punição de jamais poder experimentar o gosto da satisfação dos seus desejos. Após descoberto o delito de Tântalo, Zeus, o principal no comando das hostes superiores, ordenou que o filho oferecido no trágico banquete retornasse a viver, porém que o pai cumpriria, em condenação pelo gesto condenável, a pena de nunca chegar à realização de qualquer sonho que sonhasse. Tão próximo dos objetos do desejo e tão longe do prazer, eis o resumo do que o aguardavam na sequência dos acontecimentos.

Com água no pescoço, não poderia saciar a sede... Olharia frutos deliciosos das árvores da natureza sem, no entanto, desfrutar do direito de saborear-los, forma inominável de suplício, símbolo da insatisfação dos instintos que chamam de a medida do ter que nunca enche. Tântalo e seus descendentes sempre iriam carregar a prova de imaginar ambições, e não vencer o limite que delas o separa, nesta vida material que se desmancha no mar da insatisfação, segundo os gregos de antigamente.

E quantos nadam, nadam, avistando as praias douradas da ilusão, em quimeras fantasiosas, esquecidos que transportam consigo, no íntimo coração, o motivo da felicidade, o Amor, que tudo pode e realiza.

domingo, 9 de outubro de 2011

A Brisa do Salgado - Emerson Monteiro


Este o título de outro livro do autor Dimas Macedo, telúrico lavrense de quatro costados e raízes fincadas às margens do rio de nosso querido rincão. Devotado à vida de Lavras da Mangabeira de tantos acontecidos e personagens, aprofunda ação no amor à terra, em estudos e registros do universo que lhe convida a momentos definitivos das páginas que escreve com ânimo acendrado. Prolífico, incansável, preserva as relíquias desse lugar, consagrado aos irmãos de uma terra reconhecida pelas letras, de inúmeros títulos, poetas, contistas, cronistas, romancistas, memorialistas, nascidos ou vividos no seio do tórrido continente.

E Dimas se entregou à função de maestro da orquestra multiforme... Escriba primoroso, dedicado, proficiente, recolhe peças elaboradas pelo esmero daqueles heróis da pena, e constitui o acervo da literatura que descobre aos filões na alma dessa gente... Traça rumos, pesquisa, referenda, artífice intelectual da Academia Lavrense de Letras, exemplo vivo de cultor da arte a quem oferta sonhos de inteira devoção.

O livro que hoje nos traz, edição da Imprece Editorial, Fortaleza CE, 2011, consolida posições por meio de crônicas e ensaios inspirados, visando significar o rumo saboroso dos quintais férteis do Rio Salgado, cujas águas acariciam os morenos pés das musas da pátria ressequida. Ainda que envolto nos afazeres profissionais, se permite a instantes preciosos de laborar espelhos de sapiência e monta e totalidade lógica dos discursos textuais coletivos.

Converge, pois, linhas do tempo e do espaço lavrenses na colcha de retalhos dos filhos próximos ou distantes, vivos ou eternos, presentes ou para sempre destacados pela fraternidade, instrumentos afeitos à batuta do grande amigo que resolveu doar genialidade aos amantes das letras interioranas, literatura ao natural.

Um inesquecível cronista das terras alencarinas, poeta, ensaísta e historiógrafo, Dimas Macedo assim subscreve a legenda de que Lavras da Mangabeira se reveste qual cidade fenômeno das letras cearenses, pela incidência privilegiada na relação autores/habitantes no decorrer da sua história, satisfação e honra dos apreciadores da cultura.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Hoje, a partir das 2 da tarde, pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri - 1020 khz, AM, ou pelo site http://www.radioeducadora1020.com.br/, você pode conferir a entrevista que farei com o Pachelly Jamacaru, este compositor, intérprete, poeta, fotógrafo que desde os anos 70, ainda menino, começou sua caminhada pela vida tendo a arte como sua grande companheira.

Até lá!

NOTA: A bela foto que ilustra a postagem é de Dihelson Mendonça.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Minha avó Lídia - Emerson Monteiro


Ouvia Mulheres de Atenas, na voz de Chico Buarque, quando retornou às minhas lembranças a forte presença da mãe de meu pai, Lídia Augusto Leite, neta de Fideralina Augusto, de quem coube herdar a casa grande do Tatu, onde esta vivera, sítio em que nasci e fiquei até os quatro anos.

Para seguir o meu avô havia de ser realista das chagas do sertão áspero. Resignada, de gestos austeros e sempre silenciosos, mantinha a existência dos movimentos que representavam o cotidiano das almas penadas que tangiam o troar de moedas e o trancilim dos animais no carreto da cana, dos pastos para o gado, correria das ovelhas e o ritual da igrejinha lá no alto, próxima da casa dos meus pais, no outro lado da enorme bagaceira do engenho. Quase surda, falava mais aos gritos. E nós, os netos, lhe respondíamos: - Vó, quem é mouca é a senhora. Não precisa falar assim dessa altura.

Mulher de fibra, estruturava o sistema desse mundo ensolarado. Mãe doze vezes, apenas nove dos filhos permaneceriam vivos. Feições de sertaneja puxadas a índio bravio, seus olhos não olhavam, fuzilavam os personagens em volta, acesos no fogaréu da faina humana que enfeixavam a cena.

Recordo a simpatia com que tangia a intimidade da família, de riso raro a quebrar um pouco o peso da autoridade do meu avô, seu primo, também neto de Fideralina. A varanda era palco de tudo, vindas e idas de tantas ocasiões, e porto seguro das atividades rurais.

Quando precisou limpar a capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, recebeu da filhas, que moravam no Rio de Janeiro, caixas e mais caixas de prendas leiloadas em quermesse no terreiro da casa, com a presença de visitantes dos sítios próximos e de Lavras, a uma légua no lombo das montarias.

Firme nos propósitos, sofreria resignada a saudade dos filhos. Meu pai saiu bem depois, vindo morar em Crato. Eles permaneceriam ainda um pouco no lugar. Adiante lhe seguiriam. Seriam nossos vizinhos de quase duas décadas. Novamente os frequentei como assíduo participante de suas vidas.

Sentava junto deles para testemunhar o fluir solene do tempo naquelas silhuetas marcadas de cicatrizes reunidas ao sabor da cumplicidade. Nisso, ouvia as histórias do meu avô, enquanto ela outra vez regia a orquestra da casa, solícita, perene, corajosa.

Após cumprir os afazeres, parava na porta da rua a observar raras pessoas nas calçadas; os automóveis só de longe começavam a dominar a paisagem urbana. Antes dela, meu avô seguiria na última viagem. Ficara ali ausente e metódica. Durante longos e aflitos 33 dias, permaneceu em coma, protelando o derradeiro chamado qual quem gostaria de continuar a temporada que passou junto de nós.

sábado, 1 de outubro de 2011

Encontro Caririense da SOBRAMES


A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores estará realizando, de 07/10/2011 a 09/10/2011 , o Encontro Caririense da SOBRAMES - Ceará. No Crato a vasta Programação ocorrerá no próximo dia 08/10 ( Sábado), no Salão de Atos da Urca , segundo Programação abaixo.

Sala C r a t o



08 de outubro , Sábado



09:00-10:00hConferências: “Dr. Leão Sampaio – o Homem que não aprendeu a dizer não”


“O Cariri no Contexto do Ceará”


Presidente: Dr. Vladimir Távora Fontoura Cruz


Palestrante: Dr. Napoleão Tavares Neves



10:00-10:15h - Cafezinho



10:15-11:15h - Temas Livres


Presidente: Dr. José Luciano Sidney Marques


Secretário: Dr. Paulo Ronalth Peres Melo



11:15-12:00h – Palestra: Ariano Suassuna: Vida e Obra


Presidente: Dr. Antonio Tomaz Ribeiro Ramos


Palestrante: Dra. Fátima Calife (PE)



12:00-14:00h – Almoço livre.



14:00-15:45hTemas livres


Presidente: Dr. Vanius Meton Gadelha Vieira


Secretária: Dra. Auxiliadora Vieira Mota



15:45-16:00h - Cafezinho



16:00-17:00hConferência: “Padre Cícero”.


Presidente: Dr. José Maria Chaves


Conferencista: Dr. Wellington Alves de Souza



17:00-18:00h Palestra: “Zé de Matos e o Universo da Poesia Popular Caririense no Século XIX”.


Presidente: Dra. Celina Côrte Pinheiro de Sousa


Palestrante: Dr. José Flávio Vieira



Noite Livre


Participe !