Aos que virão!

Quer queiramos ou não, os mitos alimentam os nossos sonhos e justificam a nossa existência.
Este blog reverencia os mitos deste nosso Cariri Encantado.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O Plástico - Roberto Jamacaru

Desculpe, amigo, se te alcançamos tão pouco.
Bem que queríamos, mas voar na tua imaginação era privilégio dos Deuses da criação.
Tu que vivias um mundo à parte, num plano irreal, com certeza tinhas razão para rir da maneira que rias; para criar do jeito que criavas e imaginar com a riqueza que imaginavas.
Dizem que nos píncaros montanhosos é onde corre a melhor das brisas, mas alcançá-los e senti-las fica para os libertos de espírito que têm na essência artística a verdadeira visão da vida. Tu, no entanto, diferentemente de nós, vagavas costumeiramente no mais alto desses montes.
Quantas e quantas vezes olhamos para ti e vimos o teu corpo em movimento a sorrir marcando presença entre nós, mas, nessa mesma hora, quantas e quantas vezes foi impossível alcançar o vôo da tua imaginação. Estavas, como sempre, em outra dimensão, no além mar, no além céu, no além cosmo, no além espírito, mas sempre perto de Deus.
Era dessas esferas imaginárias que tuas atitudes carinhosas nos surpreendiam. Sempre fomos todos rasteiros em relação a ti, quando o assunto era criatividade e imaginação, enfim, quando o assunto era a arte.
Meu caro poeta das cores e formas, como nos impressionava ver teus pincéis bailarem na brancura de uma tela, definindo e redefinindo o concreto e o abstrato; o belo e o feio; o triste e o alegre com tanta harmonia.
Para “nosotros”, meros grafiteiros de mentes plebes, isso era mágica.
Nas tuas galerias havia olhos que falavam;
Vestes que desnudavam;
Silêncios que protestavam;
Mudez que gritava;
Passos que voavam
E choros que riam.
A tua arte falava mais que mil palavras;
Protestava mais que mil revoluções;
Coloria mais que mil arco-íris;
Embelezava mais que mil arranjos.
De tanto mexer na dramatologia do real com o imaginário, levando-nos ao delírio da contemplação, um dia resolveste fazer parte do sonho.
Assim, moldurado nos teus próprios quadros, nas paredes de nossas vidas, ficastes exposto para sempre, reluzente e colorido, a nos adornar na alegria de tuas fantasias.
Na tua última homenagem, o teu corpo, em cinzas, foi lançado sobre o solo dos antigos índios guerreiros, habitantes do misterioso vale do Quixará.
Eras um artista plástico.
Em telas plásticas pintavas a vida.
Um dia viraste tinta, na imagem te confundiste, e aí, na imortalidade da própria arte, renasceste para sempre.

Tributo ao Artista Plástico, natural de Farias Brito no CE.
- Normando Rodrigues –

Dois dias depois - Emerson Monteiro


No jornalismo, notícias são acontecimentos de interesse público divulgados pelos meios de comunicação de massa, e existem formas de avaliar a importância das notícias conforme a sua relevância. Uma dessas formas é a proximidade. Entre duas notícias, uma sempre melhor atende a esse requisito de tocar mais de perto a comunidade.
Enquanto avistávamos, no Cariri, as catástrofes climáticas ocorridas em cidades do Rio de Janeiro, as notícias guardavam proporção considerável, porém representavam marcas noutras populações afastadas geograficamente falando. Agora, contudo, diante da cheia desproporcional do Rio Grangeiro, a força das águas nos mostrou outras dimensões, em face da ligação imediata do acontecimento.
Esta madrugada, dois dias depois, circulando nalgumas avenidas que margeiam o Canal e ruas circunvizinhas ainda em fase de arrumação, avaliei de perto a dimensão do fenômeno meteorológico que confrangeu toda a cidade de Crato na madrugada do dia 28 de janeiro de 2011.
A imagem principal da cena deixa às claras o risco constante que representa, a curtos e longos prazos, viver exposto à imprevisibilidade natural de possibilidades antes anunciadas. Longe dos brados alarmistas ou lendários, domar rio de tamanha impetuosidade torna-se, de hoje adiante, o fator determinante das administrações, independente do que passou, perante as transformações causadas pela ação do homem nas encostas da serra nestes dois séculos de aproximação.
Olhar o assunto de frente, encontrar a solução de engenharia que ultrapasse apenas os sintomas e siga direto à base do problema, sem contemporizar, porquanto a tensão persistirá em graus adiantados durante as fases invernosas do futuro. Interessa, pois, a todos, superar os limites desta herança histórica da localização do núcleo urbano que tanto admiramos e queremos.
Somar a potencialidade dos cidadãos e reconstruir as esperanças da tranquilidade sob outros prismas, na vontade política de uma gente trabalhadora e pacífica, civilizada, respeitada na história e dotada de cultura, cheia de boa vontade e amor pela terra em que vivemos nossas vidas. Despertar as novas energias da autoestima para preservar a natureza em volta com equilíbrio e inteligência.
Existirá, com certeza, solução adequada e coerente, desde que se saiba encaminhar estudos e as providências certas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Tromba d´água em Crato - Emerson Monteiro


Após manhã e tarde de sol intenso, a noite de 27 de janeiro de 2011 também se mostrou de tempo aberto e estrelas no céu. É tanto que, às 20h15, estávamos, Igor e eu, nas arquibancadas do Estádio Mirandão assistindo à partida de futebol entre o Crato e o Ceará, pelo Campeonato Cearense. Durante o jogo, no entanto, abriam alguns relâmpagos baixos para os lados do Nascente e do Norte. Ao final, o time cratense saia derrotado pelo placar mínimo.
Recolhera-me às 22h20, observando a preparação de chuva nos sinais do vento e nos relâmpagos por cima da serra, para as bandas de Pernambuco, donde, conforme minhas experiências pessoais de poucos anos, vêm ao vale chuvas de mais intensidade.
Assim, durante a madrugada desse dia 28 de janeiro, acordaria por cinco vezes, considerando relâmpagos e trovões em larga quantidade, mantidos na pancada constante de fortes precipitações, qual ainda não se deu na presente quadra invernosa.
Choveu a madrugada inteira, chuva grossa e persistente. Algumas vezes cortou a corrente elétrica, o que de comum acontece nas situações de muitos raios.
Pela manhã, ao sair para levar as meninas ao colégio, apenas neblinava pouco, no entanto o chão encharcado transparecia o quanto chovera além da conta na madrugada.
Pelos estragos que encontraríamos no percurso da descida, imaginamos as consequências logo em seguida presenciadas às margens do canal do Rio Grangeiro, dentro da cidade.
De máquina em punho, sai fotografando desde a ponte da Integração, próxima à igreja de Nossa Senhora da Conceição, até o término do Canal, imediações do Presídio, num rastro de destruição que jamais verificara nesses 50 anos.
Postes arrancados pelo tronco, carros arrastados na correnteza e jogados contra muros e calçadas, casas invadidas, asfalto eliminado ou levantado, portões de ferro arrombados, prédios em ruínas, móveis encharcados, pontes de ferro destroçadas, pontes de cimento e ferro abaladas nas estruturas, ou com varandas zeradas e substituídas de entulhos, árvores inteiras trazidas na força das águas, e, à medida que desci com lama nos tornozelos, num exercício de equilíbrio e paciência, após a Prefeitura, entrei na Rua Monsenhor Esmeraldo, onde funcionam armazéns de estivas e cereais e outras casas de comércio, testemunhando sempre os danos provocados pela violenta enchente. Houve comércios que registraram por volta de um metro e meio d´água dentro dos estabelecimentos a dezenas de metros do rio. Devido aos riscos da cheia no interior do Presídio, os detentos foram deslocados para Juazeiro do Norte.
A intensidade das chuvas da madrugada chegou a 163mm no centro de Crato, porém escoaram pelo Rio Grangeiro inclusive as chuvas das encostas da Serra, onde estimam-se maiores as precipitações, acima de 200mm, isto para um curto tempo de quatro horas, na ação do fenômeno atípico.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pontes e Baronesas


Eis-me aqui em Recife há quase quinze dias. É como se estivesse de volta à minha casa. Os caririenses carregam consigo essa duplicidade: meio cearenses, meio pernambucanos. O escritor Ronaldo Brito percebe perfeitamente essa dualidade quando define : “Cariri, Capital Recife!” . A Veneza Brasileira faz parte do meu bau de doces sentimentos, mas devo reconhecer que nem sempre foi assim. Simplesmente porque a cidade, retalhada por rios e remendada por pontes, não se entrega facilmente aos primeiros assédios. Amante banqueira e retraída, Recife exige todo um ritual de iniciação. A princípio seus ares parecem irrespiráveis, suas chuvas imprevisíveis, seu povo autista. Só aos poucos desabrocha a cidade que iluminou a poesia de Bandeira, João Cabral, Joaquim Cardoso e Carlos Penna Filho.
Recife carrega consigo um ar senhorial facilmente percebível nos seus casarões, nas suas pontes e também no seu povo. A cidade nos olha, por cima dos seus quase cinco séculos de história, galharda e pomposamente. Talvez seja esse clima colonial que a princípio entorpece os arrivistas , como se fossem espectadores que chegassem já em avançada hora do show. Aí o descompasso parece um visível incômodo. Como retroceder na história ? Como fazer parte do script , se já tantos capítulos foram escritos ? Aos poucos, no entanto, acabamos por perceber que o Recife tem um lugarzinho guardado para cada um que aqui bota os pés. No Recife, o encantamento se faz em módicas prestações mensais, aos poucos a cidade nos entra pelas veias e, um dia, quando jamais pensaríamos nessa possibilidade, compreendemos que já não é mais possível viver sem ele. O Recife nos arrebata mansamente do mesmo jeitinho que a maré carrega as baronesas rio abaixo.
Como isso é possível ? Recife compreende que sua história não é apenas um mero detalhe para ser guardado nos livros de escola. O recifense sabe que a história da cidade é uma coisa viva, palpável e que precisa ser degustada por todas as gerações com o mesmo ímpeto e apetite. A Cultura Pernambucana não é uma peça de Museu, uma ‘ararinha azul’ a ser catalogada pelo IBAMA. Ela vive no povo pernambucano, no seu quotidiano e mais : com o dinamismo próprio de que é feito as coisas vivas. Como não se apaixonar por uma terra que aparentemente séria e ensimesmada, mal chega o Carnaval, traveste-se , anarquicamente, e explode em alegria de viver: nos passos do frevo, na irreverência das troças, na música quase mântrica dos caboclos–de-lança, nos caboclinhos, nos cocos, nos afoxés, no afro Maracatu de baque virado, nos AlA Ursa? E mais, com todas as classes unidas, sem distinção de qualquer espécie e, conseqüentemente, quase sem violência?
É folclórico o bairrismo dos pernambucanos. Mas em termos de Carnaval, de alegria de viver, Pernambuco, com toda certeza, fala do Brasil para todo mundo!


J. Flávio Vieira

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O espelho deste mundo - Emerson Monteiro


Quem quer saber o que seja o mundo, olhe lá dentro de si e verá apenas o reflexo do que queremos para as ações diárias. Ninguém espere resultado diferente do que aquilo que produz. Por isto, nada de esperar seriedade na política sem participar do processo político na altura certa das oportunidades oferecidas todo tempo através das democracias.
Postular segurança pública e correr léguas do convívio da própria comunidade em que vive demonstra contradição. Reclamar da sorte refugiado por trás de muralhas invioláveis, enquanto drogas e armas correm soltas nas madrugadas, destoa do dever. Falar em união de todos e eximir-se do mínimo em aproximação com os demais do grupo social, animais solitários, engana a si quem age desse modo.
A realidade possui a nossa cara, a minha, a sua, o DNA coletivo. Nada muda se a pessoa não mudar, dizem doutrinadores, todo tempo, porquanto assim é se nos parece. Seja a mudança que quer para o mundo, afirmava com autoridade o líder indiano Mahatma Gandhi, revolucionário de uma nação que acreditou nos ensinos de paz da sua mensagem e reverteu séculos de colonialismo.
Quantas e tantas vezes reclamamos coerência e honestidade dos nossos representantes, e, durante os turnos eleitorais, agimos qual eles agirão depois que os elegemos, bolsos cheios dos cheques em branco dos nossos votos. Nem tudo só desespera, nesses tempos distorcidos que pedem luzes. Há provas incontestes de amor ao bem público nas providências dos responsáveis sérios que ainda existem nos postos-chave, desde que os levemos até esses lugares da mais importante valia. Diz a sabedoria popular que quando virmos um jabuti em cima de uma estaca de certeza alguém o botou na posição, porquanto jabuti não sobe estaca. Quando um político preenche o mandato significa que os cidadãos o levaram ao lugar.
Filtro dessas representações políticas são os eleitores. Caso reclamemos dos mandatários, eles mostram a cara da sociedade, a nossa cara, também. Esta a equação mais simples do que acontece desde que o homem é homem, na história.
Por isso, perante a república em que vivemos, nós e nossas famílias, as mudanças principiam no dia das eleições, ao preço do suor das pessoas que sofrem; dos inocentes que padecem fome; das mães que vendem filhos; crianças que se prostituem pela ausência do respeito das orientações corretas; jovens desencantados e marginais; ruas esburacadas, sujas, abandonadas; padrões conturbados de horas críticas e contradições, e erros sem alternativas; desmandos e servidão.
Receita simples esta, a quem queira rever os equívocos acumulados: Abra os olhos e veja no espelho da consciência; interprete os meios conquistados nas existências; limpe o espelho dentro de si e trabalhe para descobrir e reavivar as esperanças perdidas pelos que esqueceram das chances de melhorar este mundo.

Belas tardes chuvosas de domingo, pra fotografar!



Do barro Deus fez as crianças e a bola para elas brincarem!

E tá "nebrinando" ?!


domingo, 23 de janeiro de 2011

Huberto Cabral - Emerson Monteiro


Desde que me entendo de gente que, atento, observo a participação constante de Huberto Cabral nas movimentações sociais, culturais e patrióticas do Crato. Possuidor de um civismo a toda prova, Cabral faz do rádio sua praia de predileção, sem, no entanto, esquecer permanências pelos jornais, revistas, livros, cerimônias coletivas, etc. Organiza com maestria eventos públicos, dentro da absoluta correção. Incentiva e participa de reuniões destinadas aos interesses da municipalidade, em todos os âmbitos possíveis e imagináveis, sempre visando ampliação dos recursos progressistas e abertura das vias de transformação comunitária. Presta homenagens a personalidades destacadas do lugar e evidencia datas memoráveis deste núcleo urbano. Recebe visitantes ilustres, orienta pesquisas de estudiosos, repassa informações do seu rico acervo e de suas vivências; enfim, um homem talhado a preservar valores históricos e a memória social do Crato e de todo o Cariri como raros outros. Alimenta um acervo de gama incalculável no que tange aos dados relativos a esta parte de mundo e é considerado por muitos um testemunho vivo dos acontecimentos principais caririenses desde o início da segunda metade do século que passou.
Nas minhas primeiras incursões a eventos públicos, recém chegado ao Crato, avistava a presença de Huberto Cabral, o que se seguiu todo tempo até hoje. Radialista emérito, lançado ainda nos primórdios da radiofonia caririense, nas primitivas amplificadoras, associa-se à evolução desse meio de comunicação, exercendo funções de liderança em programas esportivos, noticiosos, reportagens inolvidáveis e solenidades importantes para o desenvolvimento econômico regional. Assessor do Executivo cratense em repetidas administrações, vem, à frente da sua época, convocando os cidadãos a segui-lo na altiva caminhada que exercita como rotina de existência. Nas campanhas fundamentais para a construção do Cariri nos moldes contemporâneos, ali está Huberto Cabral; desde a vinda triunfal da energia de Paulo Afonso à instalação definitiva da Universidade Regional do Cariri, por exemplo. Lembro das suas participações nas transmissões radiofônicas dos jogos do antigo campo do Sport, através da Rádio Educadora; depois, na quadra Bicentenário, em noites esportivas magnânimas; vejo suas ações audaciosas e vanguardeiras na cobertura jornalística da visita do presidente Castelo Branco, aos idos de 1964; sua determinação para, juntos, continuarmos a publicação do jornal A Ação, também na década de 60; suas providências na continuidade do Instituto Cultural do Cariri, inclusive na construção da sede própria; seu denodo para trazer valiosas instituições que ora estabelecem as características da nossa Região, em todo tempo de sua história; seu ativismo nas manutenções benfazejas desta civilização caririense, sendo ele também um descendente direto dos primeiros colonizadores aqui instados nas primeiras expedições.
O acendrado zelo que Huberto Cabral manifesta na profícua missão de ativador social ultrapassa as raias da paixão, digo sem arriscar uso de termos excessivos, porquanto os resultados das suas atitudes falam dos frutos essenciais no que desempenha e promove ao ímpeto do seu amor vocacional às nossas queridas tradições.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sonhos possíveis, sonhos bons - Emerson Monteiro


Quando veremos o mundo de olhos abertos aos bons sentimentos que passeiam faceiros nas trilhas molhadas de impactos, os quais que apenas nós indivíduos um dia conheceremos de água na boca. Viver com prazer os momentos uniformes da harmonia sem culpa ou ressentimentos, e acatar as decisões do destino de espírito desarmado; aquiescer, nos gestos imprevistos das marés, as tais criaturas obedientes a um Criador que move as parelhas dos cavalos à frente do Sol, nas charretes aceleradas das horas incansáveis, dentro da natureza mãe dadivosa. Aceitar, enfim, os balanços dos barcos enquanto o rio segue nas suas águas impetuosas, filhas equilibradas da feliz companhia dos outros irmãos, no bojo de naves luminosas que afeitas riscam os céus, nas madrugadas frias.
Porquanto pretendam discordar, os protagonistas do drama questionam os roteiros apresentados dos operários na peça. Erguem assustadas vozes de protesto, perante, no entanto, o desfilar das conveniências mais pessoais. Reclamam de barriga cheia, às vezes de mágoa, de fastio, ou pressa, mas reclamam de barriga cheia disso tão só. Levantam os braços num sinal de descaso face as contradições aparentes do sistema que eles, nós, vós, mesmos criaram nos instantes de dúvidas atrozes, no fingimento da espécie insatisfeita com o itinerário do vôo em velocidades extremas. Querem, a qualquer preço, impor condições aos limites imprevistos, desde o começo, postulando propósitos de causas iniciais perdidas, alarmistas repórteres policiais.
Andar nesse ritmo alimenta de pânico o gosto de tantos que a visão conturbada mistura, entre o desejo e o desespero, impetuosa estupidez de eras atrozes. Marcam, assim, aonde querem chegar multidões famintas, caravanas sequiosas de empedernidos seres, afoitos pássaros noctívagos.
Todavia acontecem os quadros seguintes e o palco estremece no pulo dos atores, impulsos febris de cores e formas, providências inevitáveis que persistem ao infinito da fé, em corredores escuros dos paranóicos filmes, até surgir para sempre. Valentes cavaleiros calmos tangem os seus rebanhos pacíficos nas caladas da noite, forças operantes apesar das dores que invadiram o instinto explosivo de todas as pessoas, fase de crescimento que atravessam de águas no peito.
Vislumbrar, pois, novos meios de construir as igrejas dos corações impacientes significa mistérios, doces aspectos das provas do período nefasto que lá abandonou suas vítimas aos portões da alvorada em festa que já se aproximava, e morrem nas praias, o que representa a correta imagem do que quiseram dizer os livros fechados nas bancas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As flores feridas - Emerson Monteiro

No palco dos sonhos das lindas canções,
Vivendo nos braços de ilusões passageiras,
Artistas em festa alimentam o destino
Dos pássaros ligeiros lançados aos céus.

Quanta dor reunida num vento que passa:
Laços fortes e presas são mãos invisíveis
A dominar suas vidas de moços cantantes,
Produzidos, ligeiros, bonitos e frágeis.

Assim acontece aos que se esquecem
Das possibilidades dos trilhos da vida,
Caminhos desertos e inocentes vítimas
Da garra amolada nos shows dessa lida.

Há também outras lutas em vários sentidos,
De sorrisos e luzes, nos ritmos e planos
Das ricas histórias dos grandes artistas,
Os Senhores da fama e bonecos das fitas.

Ninguém acredite em desejo arriscado
De subir as escadas de um jeito afoito
Que persegue talentos e planta ilusões
Na carreira animada dos astros da mídia.

Melhor bem será crescer consciente,
Saber ser humilde e estudar com prazer
Na escola dos dias; e amar bem os livros,
Para erguer seus castelos nos solos seguros.

E depois disso tudo vem vir o sucesso
Das fases amenas, no palco dos sonhos,
Nas horas benditas dos mundos melhores,
Ao pouso tranquilo dos campos dourados.


200111.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

São Gonçalo do Amarante - Emerson Monteiro

Consta da tradição popular que, certa feita, vindo Jesus por uma estrada deserta, deparou-se com Gonçalo, músico da cidade portuguesa de Amarante.
- Mestre, em que lhe posso ser útil para diminuir a tristeza deste mundo? - quis saber o artista e nisso foi perguntando.
- Ora, Gonçalo, por mais que faças, não conseguirás dominar o espírito rebelde dessa gente, mais ainda desses que se divertem no prostíbulo da vila - respondeu Jesus. - Estive lá e eles se mostraram surdos aos meus ensinos, igual a muitos, que preferem continuar na trilha da perdição.
- Senhor, haverá, por certo, outros meios de educar. Quem sabe a música possa tocar os seus corações? - falou Gonçalo, disposto a colaborar na divulgação do bom caminho.
- Tudo pode acontecer. Já que é violeiro, queres experimentar esse recurso? - acrescentou o divino Mestre. Seguiram prosando no assunto. Depois desse diálogo, os dois combinaram que, na hipótese de o músico realizar a proeza da transformação dos pecadores do prostíbulo da vila de Amarante, receberia em dobro as bênçãos de curador.
Gonçalo seguiu na missão. Quando chegou à comunidade, tratou de acertar que, naquela mesma noite, realizaria uma festa em que tocaria para quem viesse ao salão de dança. Os freqüentadores do lugar aceitaram de bom grado o convite, animados perante aquela rara oportunidade.
Festejaram a noite toda até de manhã cedo. No cantar do galo, ainda se ouvia o pinicado da viola do músico. Era chegada a hora de trabalhar. Todos tiveram de procurar suas obrigações, sabedores, no entanto, de que, mais tarde, de noite, se repetiria a mesma função. Mulheres e homens aceitaram bem a chance de, outra vez, se alegrarem com a música de Gonçalo.
Enquanto isso, a notícia se espalhou das cercanias aos lugares mais afastados, quando escureceu, se apresentaram as pessoas interessadas no folguedo que invadiu a madrugada. Antes do fim de cada festa, Gonçalo repetia o convite para a noite seguinte. Não deixava arrefecer os ânimos dos frequentadores, e dessa forma continuou nos dias que se seguiram. À noite, os bailes de rara animação; de dia, os duros afazeres do trabalho de cada um dos convivas para manter a sobrevivência.
À maneira de Gonçalo, todos, sem exceção, tanto as mulheres quanto os seus amantes, se viram na contingência de abandonar os vícios e a fornicação, por meio da música animada e da exaustão das numerosas festas.
Passados mais alguns dias, concluiu a tarefa e se apresentou a Jesus, levando consigo a fieira de almas que havia catequizado. Conta mestre Joaquim Pedro da Silva, o responsável pelo grupo da dança de São Gonçalo que existe na subida do Horto, em Juazeiro do Norte, que Gonçalo, fazendo assim, adquiriu o merecimento de poder socorrer, por si só, aqueles que lhe procuram, sem carecer de intermediação, chegando até Deus com a sua força espiritual, pois dispõe da ciência que recebeu de Jesus quando atendeu a esse ofício que Ele determinou.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Geraldo Júnior em Warakidzã


Morando há dois anos e meio no Rio de Janeiro, o nosso querido e admirado cantor/compositor Geraldo Junior (ex- Dr. Raiz) está de volta numa turnê de 15 dias pelo Ceará - conforme agenda abaixo- quando apresentará em Crato e Fortaleza o show Warakidzã - Senhor do Sonho. O show marca o pré-lançamento de seu terceiro disco, uma viagem sonora pela cultura e mitologia popular caririense.

Além do show Warakidzã, Geraldo Junior apresentará, em Fortaleza, seu "Forró de Raiz", uma junção de forrós clássicos, interpretados de forma peculiar pelo cantor.

AGENDA:

Dia 14 de Janeiro

Show Warakidzã - Senhor do Sonho
SESC Iracema às 19h
Rua Bóris, 90, Praia de Iracema
Fortaleza- CE

Dia 18 de Janeiro

Show Warakidzã - Senhor do Sonho
EREA - 2011
Pecém
Fortaleza- CE

Dia 20 de Janeiro

Show Warakidzã - Senhor do Sonho
SESC Crato às 19h
Rua André Cartaxo, 433, Centro
Crato-CE

Dia 21 de Janeiro

Geraldo Junior e o Forró de Raiz
SESC Iracema às 19h
Rua Bóris, 90, Praia de Iracema
Fortaleza-CE



Ouça e veja o trabalho de Geraldo Junior: www.geraldojunior.com.br

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Profecias



"Se não creio na violência armada, também não chego à ingenuidade de pensar que bastam conselhos fraternos, apelos líricos, para que tombem estruturas sócio-econômicas, como ruíram os muros de Jericó"
D. Hélder


De todos os líderes espirituais que conheci foi D. Hélder Câmara , certamente, aquele que mais sacudiu as estruturas do meu agnosticismo. Difícil se postar diante dele, sem ter a plena certeza de que tamanha força fluindo de uma criatura fisicamente tão frágil, não se podia explicar sem se recorrer ao transcendental. Unia o ímpeto à doçura. Compreendia, perfeitamente, que a caridade não tinha nenhum sentido se se transformasse numa profissão. As continuadas vozes penosas: Ah os pobrezinhos, os coitadinhos, os carentes, precisamos ajudá-los... traziam junto, um perigoso imobilismo. No fundo, as igrejas nada têm de libertador, necessitam dos desafortunados para que justifiquem seu apostolado.Se os pobres não mais existirem, meu Deus, que será de nós ? D. Hélder, do alto do seu pacifismo, percebia perfeitamente que a pobreza não é um acidente, uma fatalidade, mas um monstro projetado e criado pelo Capital. No fundo, os ricos se apossam das riquezas deste mundo, oferecendo as benesses dos céus aos descamisados, com a ajuda imprescindível de muitos sacerdotes que dividem com os burgueses o produto do butim. Institucionalmente o Cristianismo nada tem de religioso, ele é uma multinacional como outra qualquer. D. Hélder visionariamente sabia que apenas conselhos, discursos, negociações não teriam o poder de destruir uma máquina tão azeitada.Como seu Mestre ele avisara: “Não vim trazer a paz, mas a espada!”
Em 1978, em plena Ditadura Militar, no Recife, vi-o proferindo uma conferência num Congresso de Residentes. Era um orador vibrante e incendiário. Contou-nos que há poucos meses , na simplicíssima igrejinha das Fronteiras, onde o Arcebispo montara sua residência, fugindo das pompas dos palácios, teve a casa invadida por um Coronel e seu destacamento. O militar informou-o que iria fazer uma devassa ali pois recebera denúncias de que o Arcebispo estava acoitando terroristas e subversivos. D. Hélder, calmamente, o repreendeu. Ali era um templo e, como tal, merecia o devido respeito. E, com sua verve profética, desarmou-o sem disparar um tiro sequer:
--- Meu filho, aqui, historicamente, sempre foi lar dos perseguidos. É aqui que os órfãos de estado, de políticas públicas, de justiça, vêm procurar pouso. Você é novinho, meu filho, e ainda não percebeu. A vida é uma roda. Neste exato momento, você se encontra no topo. Mas a roda : roda, roda, roda... Daqui um pouquinho, sem que ao menos você perceba, você vai estar lá embaixo, igualzinho aos que você hoje chama de subversivos. Quem sabe, meu filho, então, o perseguido não será você? Coronel, quando chegar a sua hora, pode vir bater à nossa porta que ela estará aberta !
O coronel carrancudo deu meia volta e se foi, sem uma palavra sequer.
No primeiro de janeiro, na posse da Dilma, ex terrorista, ex perseguida e torturada, eleita de forma consagradora, assumindo o maior cargo público do país, lembrei-me de D. Hélder e da sua profecia. Em pouco mais de trinta anos, a roda da vida tinha completado um ciclo. Onde andará o coronelzinho com seu destacamento? Onde estarão escritas agora aquelas verdades aparentemente inatacáveis cuspidas nas ordens do dia? Afundaram as ideologias, as palavras, o rancor; sobrenadou a profecia.



J. Flávio Vieira

O dia de amanhã - Emerson Monteiro

O que virá depois de tudo que o hoje mostra na face do presente a ninguém é dado saber, nas palavras bíblicas, pois o futuro só pertence a Deus. No entanto, quantos gostariam de saber um pouco mais dos dias que virão...
Abrir a porta do amanhã e deglutir, com antecipação, o verde da fruta ainda no pé, pisar os momentos seguintes e planejar com segurança o curso das ações e dos acontecimentos...
Porém não é assim que funciona. Há que trabalhar de outra forma. Estudar sob a luz da experiência que ilumina para trás, enquanto o carro segue para a frente.
Um dos métodos válidos será pôr em prática o conhecimento adquirido e ganhar visão realista na utilização do que a vida toda hora transfere. Os valores servem de base nessa empreitada. Chegam de dentro da necessidade. .
Enquanto a barba do vizinho queimar, a gente põe a nossa de molho.
Alguns conceitos oferecidos pela história guardam relação com isso de ganhar na experiência alheia. Daí o objetivo de estudar História, disciplina classificada de mãe e mestra. Ouvir no tempo o que outros aprenderam na própria pele.
Isso, quando jovem, deve orientar, para ver os que chegaram à idade adulta e souberam o jeito de fazer. Se os jovens examinassem de verdade, inúmeras vezes agiriam de modo diferente na época das facilidades, que bem representa a rica juventude. Nos tempos das vacas magras, o mundo vira padrasto, apresenta pesados tributos a quem esqueceu ou não soube plantar com vistas ao segundo turno da viagem.
Na mocidade, tudo floresce e sorrir. Na terceira idade, segundo a história de muitos, a porca torce o rabo. Braços dos outros, olhos amáveis, educação, gratidão, aposentos, quando comparecem aos gramados, vivam os pais e avós nas mãos abençoadas dos filhos. Caso contrário, tome peia no lombo.
Esperar, sem haver plantado, significa pouca probabilidade, no acontecer do inverno. Saber juntar nas épocas da facilidade impõe sabedoria, exige coerência e princípios, senso de temperança. Contar por certo o que prometeram dependerá dos mais variados fatores. Pensou que não, os bichos entram no jogo e a incerteza sujeita levar à baila o doloroso sofrimento.
Ninguém, portanto, de consciência boa, queira garantir certeza de que o amanhã vem seguro só porque reúne o mínimo necessário de viver e, com isso, os demais respeitarem as previsões. Tal vida, tal morte, fala o povo. Com a medida com que medirdes medir-vos-ão também a voz, fala Jesus.
Assim, nas roças que botarmos, o agora representa apenas rascunho daquilo que colheremos, eis a grande resposta do direito natural. A cada um conforme o seu merecimento.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A força maior do Universo - Emerson Monteiro

Das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível. Gerar das equações um resultado impossível de números inexistentes. Isso, de contar o que representa o sentimento mais elevado, a essência de tudo. Dizer o que significa o Amor em linguagem humana, tarefa das impossíveis, admissíveis, no entanto, à medida do furor das intenções.
A paixão consciente, isto seria o amor. A força maior do Universo, isto que aciona todos os movimentos que houver num dia e haverá no outro, nas curvas tortuosas dos sempres inextinguíveis. A luz de todos os nascentes, visão de todos os olhos existentes e inimagináveis. A unidade primeira das quantidades, avaliável ao Infinito das saturações. Voz de todas as falas, destino de todos os caminhos, próximos ou distantes, em qualquer território, no campo das probabilidades.
Quando nasce um filho, traz consigo a tônica do Verbo Divino, razão principal das existências, desde o fator original dos espécimes primeiros à partição milenária das multiplicações, em menor ou maiores quantidade. O Tudo e o Nada, em iguais proporções. A Força e o Poder, nas consequências inatingíveis de visões e sonhos. Maravilha das maravilhas, prazer fugidio nas seduções, linguagem dos becos e religião das religiões.
Amor, palavra e energia, concentração de pensamento, feixe de raios convergentes numa única direção e nelas todas, direções livres e sentido absoluto das linhas e dos pontos em batimento cardíaco permanente. Algo notável, ainda, porém, quimera de tantos e muitos. Valor infinitesimal. Volume descomunal. Transformação de água em vinho, chumbo em ouro, dos alquimistas e navegadores de substâncias sagradas. Cálice sagrado, pedra filosofal, fortaleza indevassável, vitória em batalhas siderais, vetor de mobilizações sociais, bandeira de palácios em festa, condição numeral dos pitagóricos; o drama e a solução dos conflitos, nexo das histórias misteriosas, linha melódica de danças e sinfonias, fusão de corpos e junção das luminosidades, em galáxias e superfícies, projetos e planos das populações espalhadas entre o oásis e as caravanas, busca desesperada dos tesouros e prospecção de minerais raros.
Instinto de procura e encontro, o amor fala nas ficções e canta nos poetas, conduz romancistas pelas sendas da civilização. Música das esferas, sabor dos elementos, quantia das moedas deste mundo. Razão principal das tradições, o amor dos animais e insetos vem nas flores e nos passarinhos, pigmento das cores oferecidas pela luz ao vigor das águas nos caudais das quedas livres; nos sóis, nas luas, nos ventos, raios e trovoadas, tempo máximo e pulsação da Eternidade.
Som nos naipes e nas elevações; o fervor das orações. O poder superior das preces silenciosas, senso e fé dos desejos virtuosos dos trabalhadores do Bem. O amor, a fala contundente dos corações enamorados. Amor, solidão dos mosteiros e conventos, vida, resistência e renúncia; emoção das emoções, estação final e princípio de jornadas espaciais; alegria das borboletas em nuvens, nas estradas desertas; trilho e meta dos viajores perdidos, jogados aos mares tempestuosos, saudades e abraços de boas vindas; perfume das rosas e tela dos gênios pintores; e sorriso aberto das crianças felizes. A volta ao recomeço...
O amor, das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A loucura de Geraldo e o delírio de tantos

Geraldo não sabe bem de onde surgiu o sobrenome que o faz famoso no Cariri. Ele o acompanha bem antes de fazer das calçadas seu quintal e da marquise do Banco do Brasil de Juazeiro , seu lar. Geraldo Doido é feliz e não podia ser diferente. Tem tudo de que precisa na sua casa , é um Diógenes dos nossos tempos. Confortável cama de papelão, travesseiro de jornais, iluminação doméstica a luz de mercúrio e a brisa da noite como ar condicionado, alguns Restaurantes próximos lhe servem de Cozinha. Não lhe faltam interlocutores a quem contar as suas peripécias e alimentar seus delírios.Quase nada é preciso para abrir seu sorriso sem tramelas, sorriso de banguelo, com porteira escancarada.
Os transeuntes riem , quando interpelado afirma que aquele Banco é seu e já está se preparando para aumentar o patrimônio, comprando um outro na circunvizinhança. Como não imaginar que o Banco é seu? Geraldo dorme na sua frente, ali defronte se alimenta , na vidraça do BB faz a sua maquiagem e, ao contrário dos funcionários e banqueiros, ali permanece as vinte e quatro horas. Poderia até requerer a posse por usucapião. Chegou a reclamar, alguns meses atrás, quando, sem sua expressa permissão, andaram demitindo e transferindo vários bancários, dizendo que era por causa de uma tal de Reengenharia. Geraldo Doido sabe, mais que os homens que se dizem sãos, que o que faz uma instituição não é a construção nem os equipamentos existentes nela, mas são as pessoas que lhe dão vida e a fazem eterna ou efêmera.
Quantos riem de Geraldo, do seu delírio de grandeza! Há uma certa nobreza, porém, trespassando aqueles molambos. E um risível contraste: o Capital e a vítima da sua selvageria dormindo no mesmo leito, em franca e amigável convivência. Dois Brasis antagônicos e díspares sob o mesmo teto: O Brasil do acúmulo de riqueza e o Brasil da fome e da miséria. Dois Brasis separados por um abismo!
A alucinação de Geraldo é muito comum entre nós. Quantas pessoas trabalham , dissipando sua juventude e vão acumulando riqueza, sem usufruí-la, com o único fito de mostrar orgulhosamente para os outros e se vangloriarem de ricos e soberanos? São os pobres ricos, cheios de jóias e de saldo bancário volumoso, mas que, exatamente como Geraldo, sentam vigilantes diante da riqueza e passam a vida observando e apontando aos amigos, sem a coragem de dissipá-la. Nem tentam a dificíl a alquimia de trnasformar dinheiro em felicidade. Alimentam uma loucura , exatamente como Geraldo Doido sob a Marquise do BB!
Os paises são também acometidos, às vezes, de crises de megalomania. Vejam o Brasil, de repente estabeleceram uma política econômica visando, única e exclusivamente à atração do capital estrangeiro para o país. A partir daí passamos a nos sentir ricos e prósperos, porque estávamos sentados diante do capital especulativo das nações ricas, vendo-o reluzir e pensando que era nosso, exatamente como Geraldo Doido, no seu delírio de grandeza. De repente os donos verdadeiros do dinheiro o levaram e ainda cá estamos, sob a marquise contando para todas as nações do mundo que somos ricos e afortunados , a mesma história de trancoso que Geraldo Doido conta diuturnamente a todos os que dele se aproximam. Se há loucura na história de Geraldo , o mundo todo é um hospício.


J. Flávio Vieira

P.S- Este artigo foi escrito em 1998. Recentemente “Geraldo Doido” foi barbaramente assassinado, enquanto dormia, na calçada do Banco de que se achava proprietário.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Hora da Ave Maria - Emerson Monteiro

No ano de 1958, morando com a família em Crato, meu pai seguia, ainda por certo tempo, vinculado aos negócios do sítio, em Lavras da Mangabeira, onde deixara animais e eito de cana, de que renovava o cultivo e participava das moagens, nas épocas próprias. Nesse sentido, ia lá quase todo mês, através da rodagem de terra que cruzava a Serra de São Pedro, cheia de trechos estreitos e arriscados, conhecidos pela periculosidade e acidentes fatais que provocava, percurso que agora abriga a Rodovia Padre Cícero e reduzirá em dezenas de quilômetros a distância para Fortaleza.
Houve uma ocasião, nessas viagens, quando, já próximo do distrito de São Francisco (hoje Quitaiús), o caminhão em que viajava, de propriedade de Seu Severino Medeiros, tombou em trecho de curvas fechadas e piçarrentas. Dentre as vítimas mais graves se achava meu pai.
Machucara uma das pernas à altura do tornozelo, fraturando ossos em três lugares e sofrendo profunda contusão, o que lhe custou séria perda de sangue e demorou um tanto para cicatrizar. Veio trazido ao Hospital São Francisco, em Crato, onde permaneceria pelo período de um mês, ou pouco mais.
Durante esse turno, não poucas vezes lhe visitei e permaneci junto dele. Era eu portador constante das encomendas entre nossa casa e o hospital.
Nunca antes havia estado naquela construção de tantos corredores, salas, lugares sombrios, silenciosos, ruídos típicos; de pessoas diferentes, agitação incessante. Andava onde podia. Menino aceso, observava as movimentações e acompanhava os acontecimentos diários.
Relembro de enfermeiras, médicos, amigos de meu pai que lhe visitavam; das áreas internas e solitárias do casarão escurecido; as rampas; os portões vetustos quase nunca abertos; e da calma da capela, que tocava o íntimo da criança de nove anos com melancolia intensa, sobretudo aos finais das tardes, quando deixava ouvir os acordes da Ave Maria, de Schubert. Misto de saudade e distanciamento fervilhava meu ser; algo de uma solene paz que envolvia o ar no véu luminoso da penumbra e, aos poucos, vinha decrescendo os restos das tardes, modificando, nas notas suaves da música, a noite e seus aspectos quase adormecidos, afastando de vez, com mãos veludosas, os clarões retardatários do outro dia.
Essas marcas especiais daqueles instantes passados costumam, depois, preencher minha memória, quando ouço o canto da Ave Maria, às 18h, nas emissoras de rádio, que tocam o disco nas suas programações, avivando em mim emoções que, nessa quadra, tomaram conta de nossa família, permitindo, no entanto, que tudo chegasse a bom termo, com o restabelecimento de meu pai, o ponto forte na condução de todos nós.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Imediações da paciência - Emerson Monteiro

Diz-se que a pessoa tem pavio curto quando, com facilidade, deixa disparar o instinto agressivo, pondo pés no lugar das mãos, ao menor estímulo. Por motivo dos mais insignificantes, chuta o pau da barraca, na linguagem popular. Muitos fazem disso profissão, ganham no grito situações as quais bem poderiam conduzir do jeito amistoso, com educação, aproveitando as chances que surgem, toda hora, de criar relacionamentos produtivos, e construir lugar melhor de viver entre habitantes deste mundo nem sempre tão fácil de atravessar.
Há, entretanto, diversos amigos que contribuem nesse trabalho de aperfeiçoar o trato com os demais moradores das imediações da virtude, no âmbito social e consigo mesmo, nas criaturas humanas. Um deles, a valiosa paciência.
Quanto maior o uso da paciência, melhor o seu desempenho, semelhante ao amaciamento das máquinas e dos sapatos. Paciência não esgota, ao contrário de quem perde as estribeiras e quer se justificar. Pois ela pertencer à qualidade interna dessa virtude, a capacidade para ser inesgotável. Se não, caso esgotasse, perderia sua característica principal e viraria outro estado de espírito, fraco e descartável.
Bom, perto da paciência, nas imediações, residem alguns valores apreciáveis pela riqueza que transmitem aos que deles lançam mão. A esperança, por exemplo, uma dessas personagens da infinita misericórdia, parceira valente dos instantes de aflição. A feliz esperança, mãe bondosa das preciosas noites de sono dos aperreados, passageiros das agonias desse chão quente de travessias escuras. A que jamais esquece e nunca morre, apesar dos que dizem que morreria por último, conversa de quem a desconhece. Caso assim ocorresse, porém, também perderia sua principal qualidade, invés da rica essência, nutrição dos aflitos.
Uma outra cidadã do bairro onde mora a paciência recebe o nome de fé, palavra pequena de potencial esplendoroso. Ela veio habitar aqui por perto trazendo a energia dos contatos imediatos da divindade, linha aberta de escutar, dentro do coração, os sussurros do Universo. Fé, procedente das florestas virgens da religiosidade, na fibra íntima das emoções puras, moradora inabalável dos edifícios que rodeiam a paciência, que remove montanhas, alimenta famintos da luz verdadeira, mitiga a sede dos desvalidos, clareia passos aos cegos, alegra lares infelizes e transforma pesadelos em sonhos de paz.
No recenseamento dos habitantes desse território onde mora a paciência, na cidade das almas humanas, precisa, ainda, visitar a casa de outros moradores ilustres, o otimismo, sujeito de valor apreciável em qualquer empreendimento, sem esquecer de entrevistar seu irmão mais velho, o senso da realidade, para evitar cair da cama nos excessos de fantasia. Ouvir outro, um senhor entroncado, musculoso, calmo, persistente e simpático, o respeitado professor de nome trabalho, companhia necessária todo tempo, com intervalo só aos finais de semana. E novos e úteis viventes daqui de perto, onde existe a fiel paciência, em tudo por tudo a líder comunitária do sucesso.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Sísifo

Entrou em casa , à noite, como se trouxesse no corpo as feridas de uma batalha. Os dias todos pareciam uma xerox de um só . Trabalho repetitivo de tabelião de cartório, imerso no cofre da fina burocracia: escrituras, registros civis e de óbitos, reconhecimento de firmas. Olhava para aquele mundão de livros velhos e sobrenadava-lhe a certeza: ali , no cartório, estava depositada a vida perdida de várias gerações. Prazeres que não foram desfrutados, viagens que deixaram de ser feitas, felicidade enfim que acabou encarcerada em páginas esmaecidas, aguardando a sanha feroz dos inventários.O estranho é que, com o passar do tempo, aquela inutilidade armazenada nas prateleiras empoeiradas começou a inundar um pouco a sua própria existência, como se seu mundo, de alguma maneira, fosse sendo também aprisionado entre carimbos e certidões. O patrão, rígido, já tinha aquela cara esquisita de formato partilha. Até mesmo o descanso do domingo adquirira uma feição cartorial: ou Faustão ou Sílvio Santos. Sentia-se, como tantos dos seus clientes, um pouco órfão, ausente e interdito. Pois foi com aquela cara de arquivo morto que entrou em casa, por volta das 20 horas. Dirigiu-se para a mesa da sala em busca do jantar, já olhando , com o rabo do olho, a rede que o esperava atravessada na varanda. Estranhamente não viu pratos , nem talhares. Súbito, a mulher saiu do quarto e, sorridente, andou em sua direção. Estava maquiada, cabelo esticado às custas de uma escovinha de última hora e vestia um longo , preto, ainda com o cheiro da loja. Pensou, rapidamente, que ela devia estar voltando de alguma festinha da escola do filho. Com a barriga protestando, pediu-lhe que servisse o jantar. A esposa franziu o cenho , não deu palavra e retornou cabisbaixa, apagando os próprios passos . Ele recostou-se na rede e ficou imaginando o que poderia ter ocorrido: alguma fofoca de vizinha, um telefonema anônimo, alguma festa em casas de amigos ou na toca daquela jararaca da sua sogra, que havia esquecido ? Antes que chegasse a alguma conclusão, ouviu uns soluços secos que ressoavam a partir das paredes do quarto. Correu para lá e deu com a esposa aos prantos, sentada na cama, com a maquiagem já toda borrada. Que diabos estava acontecendo ? Achegou-se e perguntou, carinhosamente do que se tratava:

--- O que aconteceu ,Terezinha?Você está doente? Está sentindo alguma dor ?Levantaram algum falso contra mim ? Quer que eu lhe ajude a tirar esta roupa de festa ?

Terezinha , muda, apenas chorava convulsivamente e aumentava o tom do pranto, em uma oitava, a cada nova pergunta do marido. Em pouco , a patroa parecia um soprano interpretando uma ópera desconhecida. Ele achou mais sensato parar e voltar à rede da varanda onde tentou , sem êxito, descobrir o enigma. Adormeceu em meio ao cansaço e a fome e sonhou com uma terra em formato de almofada, assolada por uma tempestade de carimbos. Despertou cedinho e retornou para a tarefa de Sífiso. Não adiantava mexer com aquela sensitiva, ressonando ainda com o vestido da véspera na cama.
Ao retornar, à noite, encontrou-a ainda trombuda e só , então, descobriu o erro fatal: esquecera seu aniversário de vinte anos de casado. A esposa o aguardara, ontem, para um jantar a luz de velas e algum presentinho que relembrasse a data. Passara batido. Tentou desculpar-se , sabendo de antemão que para tal crime não haveria perdão, não tinha sursis, era inafiançável : estaria condenado ad eternum .
Tentou minar aquele coração pétreo com afagos, com uma posição diferente na cama, com um almoço arrumado de última hora e um perfume francês. Mas tudo parecia exatamente o que era : uma tentativa vã de corrigir um erro imperdoável. Usou então o argumento derradeiro , deslocou-se até uma floricultura e encomendou um bouquê de rosas vermelhas , aquelas que trazem o cor flamejante da paixão . Junto anexou um cartãozinho dourado , com dois pombinhos ,aos beijos em um dos cantos, e sapecou a cantada em letra bonita, com seu linguajar de tabelião:

“ Para Terezinha,
Meu maior bem móvel.
Amo-te
O referido é verdade.
Dou Fé .
Osvaldo"

Depois das flores o clima melhorou um pouco, as coisas foram voltando para o devido lugar. . Qualquer briguinha , no entanto, qualquer arrufo e lá ressuscita o terrível pecado de omissão :
--- Você não lembra, não ? Até nosso aniversário de casamento você esqueceu ...

Aprendeu, tardiamente, que o coração feminino tem arquivos impecáveis e de facílimo acesso. O detalhismo está profundamente entranhado naquelas almas :Terezinha perdoou , mas não esqueceu. Osvaldo comprou agenda eletrônica, marca as datas importantes no calendário sobre seu bureau, usa até a Internet, temendo uma recorrência fatal no mesmo crime hediondo. Contratou até algumas testemunhas que possam falar a seu favor em casos mais melindrosos. Percebe, porém, que como na vida, nos livros de tombo do sentimento não é possível passar procuração e nem substabelecer.

J. Flávio Vieira

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A dor ensina a gemer - Emerson Monteiro

A infinita sabedoria dos povos, colhida numa única frase e no decorrer de tantas eras, apresenta lições que funcionam como remédio de curar as feridas do tempo. Diz São Paulo que ninguém deve confrontar as agulhadas recebidas (Não recalcitreis contra o aguilhão, nas suas palavras textuais, na Bíblia). Isto representa a necessidade de aceitar as contingências humanas quais instrumentos que levam a subir o caminho evolutivo cheio de segredos imensos.
Desesperar jamais, portanto. Integrar, nos elementos da história pessoal de cada um, desafios quais peças da engrenagem que trará crescimento individual. Mesmo porque, a revolta de nada serviria e ainda agravaria as circunstâncias que não pediram licença para vir a campo. Quem se desespera, ou se revolta, sofre de qualquer jeito, e agrava o sofrimento duas vezes, pelo sofrimento e pela ausência da conformação.
Há mistérios que exigem paciência e trabalho, na continuação de viver. Tocar adiante do jeito que as coisas chegarem, até conseguir respostas que satisfaçam as indagações, eis o modo responsável de vencer. Isto face ao que ensinam aqueles que amenizaram as dores com notícias inteligentes, a todo o momento que olharmos na estrada dos demais. Os sábios, santos, vitoriosos da nossa humanidade, buscaram responder às grandes questões da dor através do esforço íntimo de superar os obstáculos com carinho e aceitá-los feitos filhos de um Pai supremo que a tudo supervisiona. Irmã dor, considerava São Francisco de Assis. A religiosidade torna-se, nas horas críticas, bênçãos inigualáveis de cruzar os rios cheios das provas vivas.
Deus, o sagrado de todos nós, o símbolo máximo do coração das gentes, a Este, sim, devemos pedir com ânimo forte, no silêncio reverente dos santuários da existência, nas preces fervorosas que reduzirão, do jeito próprio, as maiores indagações de sentido para viver bem.
Abrir o espaço que só a Ele pertence dentro de nós e deixar, com tranquilidade, chegarem forças de aceitar o que nos reserva o calendário da busca espiritual. Pois o merecimento se apresenta a quem se permite receber. Nessa hora, a conformação iluminará a alma e os frutos do amor virão à tona tais milagres, traduzindo na paz o bem das melhores soluções.
Ao parar e olhar em volta é que se observa o tanto de oportunidades oferecidas aos que sofreram e souberam reunir as inúmeras aulas da humildade produzidas pelo sofrimento, e nos enriquecer do que mais precisamos para sobreviver, feitos superheróis de filmes e quadrinhos.
Por isto, pelos dons da superação que os protagonistas do drama existencial são capazes de vivenciar e disso tirar o sabor mais precioso, a consciência popular criou o conceito de que a dor ensina a gemer, uma filosofia capaz de preencher o vazio das dificuldades naturais com atitude corajosa e confiante.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sina de marginal - Emerson Monteiro

Tarde dessas, caririenses, molhadas, quando as matas, sonoras de passarinhos cantores, parecem prenunciar o início da temporada das chuvas, nas notícias do rádio ouve-se contar da morte de um jovem de 17 anos, assassinado com oito tiros de pistola, em Fortaleza, na Barra do Ceará. Usuário de droga, fora morto por dois homens, que fugiram em uma moto. No dia anterior, abordado por traficante, que cobrava dívida atrasada, respondera atirando. Um nome a menos, uma estatística a mais, solucionando o conflito.
Situações desse tipo viraram casos de rotina nos dias atuais, multiplicados pelos noticiários feitos erva daninha que invade a paz social, rasgando de exemplos melancólicos o tempo tumultuado de cidades inteiras.
Pessoas, as menos endinheiradas das periferias, fora das tradições patrimoniais e dos festejos, arrastam fama de alimentadoras sensacionalistas de escândalos apagados pelos rastros dos rabecões enegrecidos. Outras, possuidoras de futuro, filhas dos nobres, esperançosas, viajantes do exterior nos trens de luxo da facilidade, esperam de olhos alegres o preço do sucesso.
E as tardes silenciosas proclamam a graça deste mundo em forma de normalidade e cifras reveladoras do êxito administrativo dos gabinetes oficiais, enquanto a norma rígida dos códigos reclama vagas nas penitenciárias superlotadas de moradores inúteis jogados às traças dos eleitos da sociedade.
Qualquer coisa assim que pede resposta urgente aos pontos de vista da euforia bem vestida. Indignações estridentes, armas acesas que matam às escondidas, depois tornadas públicas nos cadernos volumosos das páginas policiais, gritos de socorro a quem, e a quantos, ninguém aceita querer responder.
Nisso, os passos fora da estrada daqueles moços, filhos como outros, netos como outros, farrapos das toalhas de mesa da casa dos pais, dos irmãos; lágrimas quentes, dores amargas. Folhas nacionais largadas ao vento das agruras familiares de mães envelhecidas lá antes da hora, restos de banquetes e confraternizações, atores rebaixados nos campeonatos da terceira divisão da juventude perdida.
Chegou aos pensamentos, devagar, meio fora de hora, o alento de saber que nas barras infalíveis do tribunal das existências todos responderão em nível de igualdade, porquanto aos que muito têm mais lhes será dado; e aos que nada têm até o que pensam que têm lhes será tirado, equação definitiva das palavras de Jesus.
Longe, pois, de imaginar houvesse apenas frieza crua na justiça eterna quanto, vezes tantas, presenciamos nas histórias dessas tardes ingratas para os simples, desvalidos, nas pontas de ruas espalhadas, neste chão marginal dos becos infectos e seus barracos sórdidos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A leitura como finalidade - Emerson Monteiro

Dentre outros resultados da leitura como hábito saudável, ler com frequência ativa funções cerebrais necessárias para viver consciente e com maior durabilidade no tempo.
Um conhecimento, que é de todos, repete os ditos da ciência de que o que não se usa atrofia. Em vista de serem os neurônios células vitais do sistema nervoso, à medida que se apagam, levam consigo a vitalidade essencial do bom andamento das demais atividades do corpo. Enquanto que a constância da leitura mantém a sobrevivência dessas células, e ocasionam saúde ao corpo inteiro.
Há um livro intitulado A arte de ler ou como resistir à adversidade, escrito pela pesquisadora francesa Michèle Petit, que desenvolve o tema da leitura do modo utilitário, sob o ponto de vista psicológico. Ela considera o ato de ler nos momentos críticos da vida, diante das desilusões amorosas, morte de pessoas da família, doenças, crises ou catástrofes coletivas, qual instrumento poderoso de restabelecimento dos aspectos pessoais positivos. Naquelas ocasiões, o livro apresenta sua fidelidade ao leitor, de modo a permitir energias suplementares para vencer os embates difíceis da existência.
Amigo incondicional, o livro conduz as pessoas a lugares mentais que lhes permitem chegar aos meios da calma, apaziguando distúrbios e conflitos ocasionais.
Em todos os cantos, leitores utilizam o poder da leitura para reverter situações adversas, mostra a pesquisadora, desde a Europa à América Latina, Brasil, Argentina, México, Colômbia. Ela viajou pelas diversas localidades estudando experiências de professores, psicólogos, artistas, escritores, editores, trabalhadores sociais, considerando diferentes públicos, crianças, adolescentes, mulheres, homens, escolarizados, marginalizados, sempre com a visão essa interpretativa da leitura e sua utilidade revitalizadora.
Na concepção dessa estudiosa francesa, a leitura conduz ao esquecimento temporário da dor, do medo e da humilhação (...) para despertar a interioridade, colocar em movimento o pensamento, relançar a atividade de simbolização, de construção de sentido e incita trocas inéditas. Conclui, então, que o hábito de ler permite intercalar momentos de paz nas realidades dolorosas, ofertando uma sobrevida aos leitores. Invés de fuga do mundo real, ler permite uma pausa, um intervalo necessário para curar as feridas de uma realidade demasiado dolorosa, nas suas palavras.
Segundo Michèle Petit, apropriar-se dos livros é reencontrar o eco longínquo de uma voz amada na infância, a relembrança dos entres queridos e suas sonoridades em que as palavras são bebidas como se fossem leite ou mel.
Resta a todos, também por isso, valorizar o hábito da boa leitura e o privilégio de se ser alfabetizado entre tantos que ainda não obtiveram esse direito.

domingo, 2 de janeiro de 2011

NUCLEAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS COMO BASE PARA A FORMAÇÃO DO CARIRI


Texto de Zé Nilton*

Hoje não se tem mais dúvidas, à luz de escritos e pesquisas históricas, de que as terras sul cearenses desde Icó e em seguida o território dos Cariris Novos foram conhecidas e ocupadas na última metade do Século XVII e primeiros anos do século XVIII.

Na segunda metade do séc. XVII é criada a povoação de Icó após brutais contendas com os índios Icó, Icozinhos e outros, que habitavam as terras paraibanas e cearenses. Em seguida, sesmeiros e posseiros subiram pelo Jaguaribe, alcançaram o Rio Salgado e adentraram as terras dos Cariri. Fortes grupos familiares se estabeleceram na região do Riacho dos Porcos e para além das cabeceiras da Cachoeira de Missão Velha.

Algumas dessas famílias foram adquirindo terras em pleno Vale caririense por compra a sesmeiros ausentes, aqui chegados a partir de 1703.

Não é de todo impensável a presença de moradores assentados no Vale do Cariri a partir do primeiro lustro do Séc. XVIII. É fato que em 1703 um rio-grandense vindo de Jaguaribe, Manuel Rodrigues Ariosa, requer sesmaria de terras hoje ocupadas pelos municípios de Crato e Juazeiro do Norte e Porteiras. Contrariamente a outros sesmeiros aproveitou suas terras economicamente, e quando faleceu, em 1716, seus herdeiros venderam ditas terras para a família Lobato, estabelecida na região de Missão Velha ou Cachoeira.

Nas cabeceiras e margeando o Riacho dos Porcos, na área de Mauriti, Jardim, Milagres troncos da família Dantas se estabelecem desde 1707.

Consta ainda a presença de sítios como o Muquém, em terras hoje cratenses, em pleno funcionamento em 1730.

Quando da ereção da outrora localidade da Missão do Miranda em Vila Real, em 1764, famílias se encontravam situadas nos pés de serra ocupadas em atividades econômicas nos sítios Urucum, Jenipapeiro e Engenho Almécegas.

Há uma informação segura do pesquisador Pe. Antonio Gomes de Araújo que, após consulta a registros de nascimento, batizado, casamento e morte em arquivos paroquiais de Icó, Missão Velha e Missão Nova, encontráveis a partir de 1727. Diz:

“Quando a Missão do Miranda surge em documentos eclesiásticos relacionados com ela ( ele os encontrou referentes ao ano de 1741), o faz, simultaneamente, ao lado de colonos que satisfazem necessidades espirituais na Igreja da dita Missão”... E cita “os nomes de alguns dos mais topáveis (sic) nos documentos paroquiais da época.(grifo nosso). São cerca de 10 famílias cujos varões detêm patentes de alferes, capitão e coronel.

A presença de um corpo militar do Estado Português em terras da futura Vila de Crato nos leva a imaginar a existência – além de índios - de um contingente de pessoas residindo, produzindo e comercializando com gentes dos Inhamuns e Icó, por exemplo. Até porque havia os caminhos antigos por demais conhecidos como Icó-Cariris Novos e Inhamuns-Cariri, abertos por índios, batedores e grupos familiares em contenda.

Continuo fuçando documentos na tentativade superar as desconexões sobre o Século XVIII no Cariri cearense, na busca de contribuir para uma compreensão da nossa formação sócio-cultural para além dos importantes registros regionais.

O assunto parece não despertar atenção de acadêmicos e pesquisadores. Em 50 anos de curso de História na região do Cariri, continuamos na aceitação das verdades do discurso eurocêntrico e positivista dos pesquisadores Antonio Bezerra, Pedro Thebèrge, Antonio Gomes, Irineu Pinheiro, João Brígido e quejandos.

*Prof. Zé Nilton é antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da URCA.E-mail. jn-figueiredo@hotmail.com

Raimundo Fagner - Emerson Monteiro

Há precisos 33 anos, ao seja, na virada do ano de 1977, encontrei o cantor cearense Raimundo Fagner. À época se apresentava na Quadra Bicentenário, em Crato, ainda nos passos iniciais da caminhada de êxitos que trilharia desde então. Dessa aproximação, viria a lhe oferecer hospedagem, a ele e a alguns amigos que com ele viajavam, Amelinha, Francis Vale, Wiron Batista, Afonsinho e mais duas jovens das quais não recordo os nomes. Morava com meus pais, naquela ocasião. Eles se achavam ausentes. A casa permaneceu, alguns dias, ao nosso dispor, enquanto o grupo ficou no Cariri uns dois ou três dias mais, e com eles seguiria para passar o Ano Novo em Orós, na casa dos pais de Fagner. Depois, no mesmo grupo, fomos até Fortaleza.
Nesta oportunidade, conheci alguns dos amigos dele numa comemoração que antecedeu apresentação do cantor, promovida no Teatro José de Alencar, no princípio de janeiro de 1978. Das figuras que se reuniram naquela noite, em um restaurante próximo à residência de Fagner, lembro de Ricardo Bezerra, Fausto Nilo, Stélio Vale, Alano Freitas, Sérgio Pinheiro, Cirino, dentre outros, todos ligados às artes e à música popular cearense, os quais formavam a intelectualidade artística de Fortaleza. Cirino eu conhecera antes, exímio violonista, havia estado com ele em algumas vezes em Crato, quando estabelecêramos amizade, e eu auxiliara no lançamento de um disco seu, no antigo auditório da Faculdade de Filosofia, nas instalações do antigo Patronato Padre Ibiapina.
Depois, passados esses anos todos, agora, no Révellion do Centenário de Juazeiro do Norte, de 2010, volto a encontrar Raimundo Fagner, em sua apresentação do evento. Nesse meio tempo, nosso contato fora só através de um telefonema, quando coordenei o Comitê Contra a Fome, a Miséria, pela Vida, no Banco do Brasil, começos da década de 90, e buscava instrumentos de ampliar os recursos daquela atividade com algumas promoções.
Em 1977, pois, Fagner despontava a nível nacional desde o seu primeiro disco, Manera Fru Fru Manera, gravado em 1973. Dono de uma carreira artística preenchida de sucessos, agora integra o elenco dos nomes imortais da música brasileira, dado seu talento de músico, cantor e compositor, dos mais festejados entre os valores da cultura do Ceará.
Nesta apresentação, em Juazeiro do Norte, o músico cantou algumas das composições que marcam os momentos destacados de seu repertório, para público estimado em 40 mil pessoas, cantando logo após as apresentações de Fábio Carneirinho e Luiz Fidelis, depois sequenciado por Maurício Jorge, na programação que iniciou a pauta das atividades alusivas ao Centenário da Independência de Juazeiro do Norte, neste ano de 2011.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O Bigode de Hitler

Matozinho desfizera bravamente aquela famosa máxima brechtiniana : “Triste de um povo que precisa de heróis”. A vila alimentava quase que religiosamente sua história. Como temperá-la sem a água benta dos seus beatos, o sangue dos seus mártires, o riso dos seus sátiros, a pólvora dos seus heróis ? No que tange às façanhas militares, havia um valente soldado que imantava o orgulho de todos : Capitão Candóia ! Hoje o seu busto contempla a todos com olhos severos , defronte da prefeitura municipal. Como um guardião derradeiro da vila, da pompeiana Matozinho.
Os anais da história oficial da cidade não mentiam. Candóia fora um herói, servindo ao Exército Brasileiro na II Guerra Mundial. Voltara do conflito carregado de louros e, mesmo depois da vitória final dos aliados, continuara sua missão militar, como caçador de nazistas, mundo afora, uma espécie de Simon Wiesenthal tupiniquim. Este era, basicamente, o resumo das atividades bélicas do nosso Candóia, presente nos alfarrábios oficiais de Matozinho. Fora esta, também, a versão que permanecera na memória do povo, até porque os fatos acontecidos já ultrapassavam a longínqua distância de quase seis décadas e testemunhas de outras versões já tinham passado dessa para pior. Restara apenas o velho Sinfrônio Arnaud que teimava em não fraquejar, parecia uma braúna com mais de noventa anos. Às vezes, já tresvariava, como diziam os familiares, mas aparentemente ainda mantinha o vigor dos antigos anos. Pois bem, aqui vai a versão da épica vida de Chiquim de Candóia, o herói matozense, segundo a língua afiada do velho Sinfrônio.
Em 1943, o Brasil recém entrado na II Guerra, chegaram militares em Matozinho com fins de alistar soldados para defender a pátria do perigo nazi-fascista. Vários voluntários se apresentaram à comissão, recebidos com fogos e vivas. O Sargento Rufino , vindo da capital como chefe da missão, buscou escolher um bom destacamento. Passadas as primeiras revistas, sentiu-se desolado. Os homens que apareceram eram magricelas, baixinhos, e despombalizados, totalmente inaptos ao serviço militar. Para justificar ao menos sua ida àquelas plagas longínquas, Rufino, meio frustrado, escolheu apenas um, mesmo assim com a pulga atrás da orelha: Chiquim de Candóia ! Era meio parrudo, mas entroncado como tamborete de samba.
A partir desse momento, Chiquim foi imediatamente alçado à categoria dos heróis. Festas, discursos inflamados, presentes e assédio de moças donzelas atacaram Candóia por mais de dez dias, enquanto arrumava os teréns para sentar praça na capital. Partiu ao som da Banda de Música da Vila entoando Cisne Branco e do choro convulsivo de familiares e de mocinhas saudosas. Ao chegar à Capital dirigiu-se , imediatamente, para o quartel indicado, o glorioso 14 RI, onde, ao apresentar-se com carta de Rufino, foi novamente submetido a exame militar e médico. A conclusão dada por um oficial carrancudo e de poucas palavras lhe pareceu absurda:
--- Pode voltar prá casa, mocinho, você , magro que só assovio de sagüi , baixinho e de perna cambota, não serve aqui nem prá bucha de canhão !
Candóia saiu dali totalmente arrasado. Sentou-se na praça defronte ao quartell ( já que não conseguira sentar praça lá dentro ) e, num átimo, resolveu:
--- Não volto prá Matozinho de jeito nenhum ! Saí nos braços do povo, não posso voltar assim derrotado, sem ter disparado nenhum tiro de soca-soca nem baladeira !
Saiu perambulando até o cais do porto e foi ficando por lá. Começou a fazer bicos como estivador, arranjou um quartinho ali perto e foi se estabelecendo, por lá. Periodicamente desembarcavam e embarcavam tropas e Candóia ia se atualizando sobre o andar da guerra. Um dia um soldado vindo da Itália, lhe agraciou com uma farda velha. Todo carnaval Chiquim usava-a como fantasia, acrescia no figurino um longo bigode de palhaço que colava no lábio superior e saía, corso afora, com cara de general. Um belo dia soube da notícia : a guerra tinha acabado, os aliados por fim venceram e o III Reich fora esmagado.
Passados vários meses, enquanto carregava um navio cargueiro com frutas destinadas aos gringos,na Europa, bateu-lhe uma saudade danada de casa. Deve ter sido o cheiro inconfundível da manga rosa que se mesclava com as mais ternas fragrâncias da sua infância. Naquele mesmo dia, resolveu voltar. Já haviam se passado três anos e nunca dera uma notícia sequer, os familiares certamente, já deviam tê-lo como abatido em campo de batalha. Vestiu a farda velha , pegou a velha sopa de Duzentos na Rodoviária e partiu ! Nem é preciso dizer o alvoroço que o retorno do filho pródigo causou em Matozinho. A notícia correu de boca em boca na velocidade do vento: o herói estava de volta ! Durante mais de uma semana Capitão Chiquim de Candóia não parou. De boteco em boteco, de casa em casa ia desfilando incontáveis histórias das terras estrangeiras, da sua braveza e destemor no Campo de Batalha; das mortes incontáveis que teve que causar, para não ser trucidado pelo inimigo feroz.
Uma semana depois da chegada, Candóia foi homenageado em reunião solene da Câmara Municipal com a presença ilustre do Prefeito Pedro Cangati. Depois de inúmeros discursos laudatórios à braveza do herói matozense, o presidente apresentou decreto que criava a Medalha de Honra Capitão Candóia, a ser ofertada periodicamente “a matozenses que tenham defendido sua terra com o destemor típico dos heróis, colocando os interesses do município acima de quaisquer aspirações pessoais, inclusive da própria sobrevivência física”. Após o discurso de praxe, o Prefeito Pedro Cangati, solicitou que o Capitão contasse os terríveis momentos por que passou em terras estrangeiras:
--- Caro Chiquim, qual foi para você, herói desta vila, o momento mais difícil da guerra ?
Candóia não esperava pela pergunta e , pego de surpresa, invocou o testemunho de alguns soldados que haviam desembarcado na Capital. Lembrou que eles falavam numa batalha de “Monte Castelo”. Fincou o pé, empinou o peito e não contou conversa:
--- Amigos, o momento mais terrível e perigoso foi a tomada do Castelo de Hitler. O homem tava entocado lá em cima, como tatu acuado. Quando nos chegamos perto, o tiro comeu no centro. Eu chamei uns soldados e tive a idéia de arrodear e entrar pelas portas dos fundos. Saltamos o muro e, enquanto os outros soldados guerreavam, subi as escadas e, la´em cima, abri a porta. Hitler tomou um susto danado quando me viu. Estava sentado numa cadeira velha de balanço , fez finca-pé e tentou fugir. Eu pulei em cima dele e sustentei o salafrário pelas orelhas cabanas dele. Comi o safado na chulipa e no sabacu. Nisso meus companheiros conseguiram entrar pela porta da frente e chegaram lá onde eu brigava com o Füher. Começaram a me dizer uns impropérios pois era eles que queriam ter o privilégio de pegar o homem. Começamos a discutir e eu me abestalhei, nisso o safado se escafedeu, eu ainda segurei ele pelo bigode, mas não teve jeito, puxou, puxou, puxou e escapou pulando lá de cima e pegando o gramear, por dentro de um carrasco danado que tinha em volta do castelo.
Cangati, então, abismado com o feito pergunta:
--- Capitão Candóia, você trouxe alguma lembrança da guerra?
Chiquim, pensativo, num deixe-me-ver reflexivo, meteu a mão no bolso da farda e encontrou o bigode que lhe completava a fantasia de carnaval. Puxou-o e, firmemente, colocou-a na mesa. A platéia, perplexa, se levantou para ver a prenda. O prefeito, meio confuso pergunta:
--- Candóia, que diabo é isso, homem de Deus ? Um Bigode ?
Chiquim, deu uma pausa teatral e, com imponência, explicou:
--- Isso ? É o bigode de Hitler...
Pedro remexeu no bigodão meio flocado em cima da mesa e, meio descrente, interroga?
--- De Hitler ? Mas ele não tinha era um bigodinho miudinho, que parecia uma mosca varejeira sentada no beiço ?
Candóia não se entregou:
--- Era miudinho, mas depois que eu agarrei o homem pelo bigode, ele puxando para se escafeder, parecia um burro brabo,dando popa,e foi tanto supapo que o bicho terminou esticando e virou esse espanador...
As festas continuaram até que o bravo herói matozense avisou que precisava voltar pois o exército já o chamara, precisava voltar ao trabalho, agora com uma nova missão caçar o Fürer fujão. Sinfrônio conclui sorridente a sua história:
--- Até ontem, Candóia não voltou! Deve estar ainda na captura do homem. Quando pegar, tenho certeza : traz junto Bin Laden e Belchior !

J. Flávio Vieira

Funções da autoestima - Emerson Monteiro

O zelo para consigo mesmo torna-se, todo tempo, fator por demais importante para viver uma vida saudável do ponto de vista interior, o que facilita sobremaneira o relacionamento com os outros, com o mundo que nos rodeia e alimenta desejos de prosseguir e aperfeiçoar a realização daquilo a que se veio aqui fazer neste pedaço de universo. Os obstáculos já vencidos no transcorrer dos embates do caminho mostram o quanto podem as pessoas, em termos de coragem e resultados. Temos todos, reunida em nós, na nossa personalidade, uma enorme lista de vitórias obtidas no transcorrer dos acontecimentos de nossa história pessoal. Parar um pouco e estudar este material precioso serve de reciclagem e dispositivo para considerar o quanto de recursos e instrumento de reforço dispomos, nos passos seguintes desse traçado que nos conduzirá à formação do nosso projeto individual.
As tais anotações guardadas na memória demonstram, junto ao tribunal das consciências, o poder que dispõe o ser humano, vezes sem conta, ao querer atravessar as tempestades. Ninguém merece título de perdedor quando detém as provas de sucessivas vitórias, nas lutas apresentadas pelo caminho. E nunca serão poucos os tais acertos, desde nosso início, ainda na infância; depois, na juventude; e entrando pela idade adulta. Jamais cruzar os braços ou baixar a cabeça perante desafios, esta a lição preciosa que todos reservam para si na justiça eterna, livres do que pensem adversários ou imponham os limites da resistência.
Aprendida, pois, essa atitude positiva de resistir com garra aos males do fracasso, guerreiros erguem os olhos à metade superior da linha do horizonte e tocam o barco em frente, no sentido de concretizar seus maiores sonhos, detalhe sobretudo salutar do processo vida, sonhar sempre com o que de melhor se pretende trazer ao foco das realizações. Enquanto há vida, há esperança, dizem orientadores que querem o nosso bem. O amor às coisas boas encaminha todo percurso a destinos favoráveis. Com isso, criar na imaginação o porto a chegar, o que abre, no mundo invisível, o trilho de uma exata concretização desses sonhos. Passado em miúdos, isto quer significar o quanto pode a capacidade humana de planejar o futuro e conquistar territórios.
Houve um filósofo romano de nome Sêneca que, certa feita, escreveu que nenhum vento é favorável a quem navega sem destino, daí a importância do ato de formular o endereço firme do que se pretende realizar na existência.
Bom, quando recebidas com atenção e postas na prática, as palavras alimentam de ânimo o roteiro das pessoas, frutificando as nossas ações e o gosto de crescer ao infinito de nossas potencialidades.